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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Em busca de sentido, de Viktor Emil Frankl

“No entanto se move”

O astrônomo Copérnico (1473 – 1543), ao estudar o movimento dos astros, não ficou satisfeito com o geocentrismo – a suposição (tida como saber certo na sua época) de que a Terra permanece imóvel no centro do mundo, com todos os outros astros girando ao seu redor. Por isso, elaborou sua astronomia com base na hipótese heliocêntrica de Aristarco de Samos (sec. III AC), em que o Sol é uma estrela fixa em torno da qual a Terra e os demais planetas giram. 

Viktor Emil Frankl elaborou sua psicologia em uma época dominada pela psicanálise de Freud, em que o homem era visto como um ser determinado por impulsos instintivos, como uma máquina, um autômato. Qualquer formação do eu, qualquer personalidade, era considerada o resultado de um sistema de repressões e sublimações dos impulsos. Sem negar a realidade dos impulsos, Frankl postulou a existência de um núcleo espiritual autêntico em cada ser humano (que transita pelo inconsciente e pelo consciente), capaz de decidir com certo grau de liberdade qual resposta será dada aos impulsos internos e à situação externa presentes.

E qual a relação entre a teoria psicológica de Frankl e a revolução de Copérnico? Esta é uma bela alegoria daquela. Ao contrário do que pensávamos, a Terra não fica parada implorando diariamente para que o Sol venha lhe trazer a luz. O Sol fica parado. É ela, a Terra, quem gira, rodopia e rebola, fabricando assim o dia, a noite e as estações. Esta revolução do pensamento em busca da verdade ficou conhecida como revolução copernicana. Pode também ser chamada de revolução copernicana qualquer mudança radical no ponto de vista até então dado como certo.


A passagem da psicanálise (ou qualquer outra psicologia cientificista) a uma psicologia existencialista é semelhante ao amadurecimento do homem. Quando o homem cresce, supõe-se que ele deixe de se ver como um bebê. O bebê não pode fazer mais do que berrar e sorrir diante do que lhe é dado pelo mundo que se movimenta a sua volta, ao passo que até uma criança pode começar a agir de forma ativa e responsável diante do mundo que se lhe apresenta.

“O que se faz necessário aqui é uma viravolta em toda a colocação da pergunta pelo sentido da vida. Precisamos aprender e também ensinar às pessoas em desespero que a rigor nunca e jamais importa o que nós ainda temos a esperar da vida, mas sim exclusivamente o que a vida espera de nós. Falando em termos filosóficos, poder-se-ia dizer que se trata de fazer uma revolução copernicana. Não perguntamos mais pelo sentido da vida, mas nos experimentamos a nós mesmos como os indagados, como aqueles aos quais a vida dirige perguntas diariamente e a cada hora – perguntas que precisamos responder, dando a resposta adequada não através de elucubrações ou discursos, mas apenas através da ação, através da conduta correta. Em última análise, viver não significa outra coisa se não arcar com a responsabilidade de responder adequadamente às perguntas da vida, pelo cumprimento das tarefas colocadas pela vida a cada indivíduo, pelo cumprimento da exigência do momento.”

A psicologia de Viktor E. Frankl altera radicalmente a posição do sujeito em relação à vida. O mais importante não é o quanto de prazer ou sofrimento a vida nos dará, mas qual a atitude, quais tarefas vou assumir diante da vida que está aí, com seus sofrimentos e prazeres. Na realidade, o sujeito deixa de ser objeto e é reconhecido como sujeito.

Quem quiser conhecer melhor a vida e a teoria de Victor Emil Frankl deve ler o livro Em busca de sentido. O livro é composto de duas partes. A primeira parte narra a experiência do autor nos 4 anos (de 1941 a 1945) em que viveu em campos de concentração nazistas, tendo sido escrita poucos anos depois de sua libertação. A segunda parte faz um resumo de sua teoria psicológica, a que deu o nome de logoterapia. Há ainda uma conferência (A tese do otimismo trágico) em complemento à segunda parte.

"O ser humano não é uma coisa entre outras; coisas se determinam mutualmente, mas o ser humano, em última análise, se determina a si mesmo. Aquilo que ele se torna – dentro dos limites dos seus dons e do meio ambiente – é ele que faz de si mesmo. No campo de concentração, por exemplo, nesse laboratório vivo e campo de testes que ele foi, observamos e testemunhamos alguns dos nossos companheiros se portarem como porcos, ao passo que outros agiram como se fossem santos. O ser humano tem dentro de si ambas as potencialidades; qual será concretizada depende de decisões e não de condições.
Nossa geração é realista porque chegamos a conhecer o ser humano como ele de fato é. Afinal, ele é aquele ser que inventou as câmaras de gás de Auschwitz; mas ele também é aquele ser que entrou naquelas câmaras de gás de cabeça erguida, tendo nos lábios o Pai-Nosso ou o Shemá Yisrael."

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