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sábado, 18 de maio de 2013

Bondade

Enquanto a bondade for vista apenas como sacrifício em benefício dos outros, quase ninguém vai conseguir ser bom. O que nos permite ser bons é que a bondade é também um sacrifício em benefício próprio. Somos bons porque o sacrifício da bondade é menor do que a satisfação que ela proporciona.

O benefício da bondade é quase sempre de natureza diversa do sacrifício que ela exige. Por isso quem se sacrifica esperando algo (reconhecimento, sucesso, felicidade) em troca, geralmente se decepciona.

Cuidado com a palavra sacrifício. O que é sacrificado é o exagero, a ganância, alguns prazeres imediatos e destrutivos. Sacrifício, bem entendido, é uma entrega que vale a pena. Se eu sinto essa entrega como um grande sacrifício, talvez haja algo errado.

Miudezas


As miudezas são o eterno, e o resto, todo o resto, o breve, o muito breve.
(Antonio Porchia)

A vida é muito difícil, às vezes acho que vou desmoronar. Quando posso, choro, mas choro mesmo.

No meio do desespero, o que me salva é ler um livro. Ganhar certa distância de mim vivendo a vida e os dramas de outras pessoas.

Ou então penso sobre o funcionamento da mente humana, que nos traz tantas maravilhas e sofrimentos. E busco, ou melhor, me esvazio de tudo para observar a beleza das miudezas e deixar entrar a

Esperança


O fato de não vermos um caminho, não significa que não há caminho; o fato de não vermos uma saída, não significa que não há saída. Constantemente (desde o útero), na nossa vida, há situações em que não há saída, em que não há caminho. Se acreditamos que o mundo termina onde nossa vista alcança, nos desesperamos. Mas se percebemos que a nossa visão é limitada, que o mundo vai além e para além daquilo que enxergamos, podemos esperar.

No livro A arte de se salvar, Nilton Bonder ensina, fazendo um paralelo com a história de Moisés diante do Mar Vermelho, que se ficamos e encaramos de frente a nossa situação, um novo caminho se abre. Isso é esperança, isso é fé. Fé não é saber o que é Deus ou o Transcendente, ou qual será o nosso destino, mas sentir (por um breve momento) que o mundo é maior do que os nossos olhos podem ver e seguir em frente.

Abaixo, reproduzo dois trechos do livro A arte de se salvar, de Nilton Bonder:

Os Incríveis Momentos em que não Temos Saída (pg. 121 a 129)


(...)
Uma imagem em particular me ocorre quando busco resgatar estes instantes. De minha infância praieira, recordo-me da sensação de estar no mar e perceber ao longe uma gigantesca onda se formar. O repuxo e a profundidade da água já não mais permitiam nadar até a areia e não restava outra alternativa a não ser enfrentar a onda. Recordo-me destes momentos, em que uma única fração de tempo congelava a descoberta: “não tem saída”.
(...)
É como se estivéssemos estabelecendo que “não haver saída” é a experiência imaginária em que gostaríamos de estar em outro “aqui-e-agora”, que torna insuportavelmente pesado o compromisso com o nosso verdadeiro “aqui-e-agora”. Moisés sabe o segredo: “fica”. Fica aqui, põe os pés no lugar onde realmente estás e haverá saída. Ela não está em voltar à areia para contemplar a onda tomando um sorvete, mas na interação gelada com a onda.
(...)
Estar diante da onda no instante de mergulhar e sonhar com o sorvete em terra firme, ou simplesmente voltar-se para trás, vislumbrando a possibilidade de fuga, configura o próprio desespero. “Ficar” – estar no lugar e no momento – é o passo inicial para “marchar”. Ao marchar, por incrível que possa nos parecer, faz-se presente uma dimensão de “mar que se abre para nossa passagem”. Não é milagre, não é necessariamente o que gostaríamos que acontecesse, mas é o nosso processo, e a garantia de que, para preservá-lo, “mares que se abrem” não são mais do que um fenômeno corriqueiro.

A Esgotabilidade da Tristeza (pg 143 a 145)


Quando nos sentimos tristes buscamos nos distrair, ocupar ou consolar com coisas que nos alegrem. Não percebemos que desta maneira fortificamos a experiência da tristeza. Isto porque a tristeza a gente encara de frente, olhando direto em seus olhos. Experimente aceitar a tristeza quando ela se instala. Deixe por momentos que o aperto na glote se misture com o amargor do coração e, ao agarrar a tristeza, descubra sua esgotabilidade. Se corrêssemos ao encontro de todas as nossas tristezas, perceberíamos que elas são sintomas da alma e que das lágrimas que esta pode gerar surge a possibilidade do arco-íris, de um novo dia com renovada fé.
O medo da tristeza, portanto, fertiliza a sensação de desespero. Já a tristeza em si, ao contrário, é um dos portais rumo à fé. Afinal, acaso não será real a experiência que vivenciamos quando, depois de muito chorar, passamos a sentir nosso coração leve e vemos novas perspectivas surgirem diante de nós? A verdade é que não explicamos este fenômeno ao concebê-lo apenas como uma descarga de sentimentos, como se estes possuíssem um volume que pudesse ser escoado. A razão de a tristeza profunda ser seguida de uma sensação de esperança tem a ver com um ensinamento que descobrimos ao entregar-nos à tristeza. Revela-se a nós o fato de que cada instante traz em si os meios para que lidemos com ele. Por mais terrível que possa ser ou parecer nossa realidade, há sempre à nossa disposição uma forma de vivê-la.
Na verdade, acreditar que cada momento traz em si tudo o que ele mesmo possa vir a exigir de nós é a maior de todas as esperanças. Esta esperança traduz a confiança que temos em D’us, no Universo ou na Natureza de não violentar nosso intelecto. Sabemos que não podemos esperar nem cobrar que este mundo não nos faça conhecer nenhuma perda, ou até mesmo a perda de nossa própria vida. No entanto, é um ato de fé que não fere nossa experiência da realidade esperar que cada situação traga como parte de sua realidade os meios pelos quais podemos suportá-la e lidar com ela.
No Talmude há um dito que expressa uma lógica referente às leis que poderia ser estendida às leis naturais, existenciais e espirituais. Diz esta máxima: “Não se decretam leis ou éditos que não possam ser cumpridos.” Confiar não é o ato de esperar que nada de errado nos aconteça, mas acima de tudo ter certeza de que seja qual for o édito, este virá sempre acompanhado dos meios para ser suportado. Esta é, na realidade, exatamente a definição de não se desesperar.
Isto vale para a angústia e para a ansiedade: o fundamental não é que se procure sublimá-las, mas vivê-las. Quando vividas, elas se esgotam. 
(...)
Esta capacidade de concentrar ansiedade, tristeza e luto não se consegue através de fuga, mas do enfrentamento destes sentimentos. Todos estes sentimentos podem ser relevados se vividos profundamente. A evidência maior se encontra no sorriso que desponta depois da entrega ao pranto, ou na sensação de triunfo e transcendência que experimentamos depois do sofrimento.
A tristeza é uma oportunidade, não deve ser perdida. Se ela passar por você, persiga-a com a certeza de que ela lhe indicará o caminho para um “oásis”. A tristeza, pois, tem o poder de restabelecer nossa confiança de que cada momento contém em si a forma de ser enfrentado. Cada vez que vivemos a tristeza e a suportamos, ela fortifica nossa esperança de que também nos céus prevaleça a lógica que evita que se baixem decretos que estejam além das possibilidades daqueles que estão sujeitos a cumpri-los.