"Hoy estoy peor que ayer, pero mejor que mañana"
(Novellis – Balcarce)
"Hoje estou pior que ontem, mas melhor que amanhã."
Em uma música, o significado é percebido e reforçado na divina confusão de ritmo, melodia e letra. A frase acima é cantada numa música carnavalesca do grupo argentino La Mosca, com muita alegria. E me parece uma boa filosofia de vida. Se alguém se convencer que a vida é uma ladeira abaixo, e disso fizer uma alegria, transformará a vida numa festa. Afinal, se a tendência é que as coisas estejam piores no futuro, e o ontem não volta, o hoje deve ser visto com um novo olhar, como o melhor momento que tenho. Aliás, a tendência de considerar que as coisas vão melhorar no futuro, ou até depois da morte, é uma das maiores causas de desperdício de vida.
"As idéias estão no chão, você tropeça e acha a solução"
(Sergio Britto – Paulo Miklos – Branco Mello)
A música dos Titãs fala direto àqueles que estão desesperados, ou desesperando, ao pensar muito na vida. Pensar na vida, mesmo sendo necessário, leva a esse desespero. Porque no pensamento a vida não tem solução. Então a música faz um chamamento a quem está perdido nos pensamentos: "Ponha os pés no chão e caminhe, vá à vida. É certo que a vida propõe problemas, mas para cada problema real que a vida te propor, também haverá uma solução, no chão, ao seu alcance."
Pensar muito na vida, preocupando-se, transforma o breve momento em permanência, a leveza em gravidade. Um avião parado pesa muito, mas coloque-o em movimento e ele irá voar. Com a vida acontece de forma diferente: naturalmente ela está em movimento, leve, mas as mentes preocupadas freiam o movimento natural da vida, tornando-a pesada.
"E o que foi feito é preciso conhecer, para melhor prosseguir"
(Milton Nascimento – Fernando Brant)
Para viver bem, é fundamental conseguir se posicionar mentalmente no tempo e espaço presentes. Mas o presente sem considerar o passado e o futuro não é nada. E quem tenta "viver o momento", sem memória e sem objetivos, sem perceber a conexão desse momento com a linha do tempo, sente-se perdido entre alguns momentos de euforia e uma sensação geral de desânimo, de desperdício. O passado é um espelho que reflete quem somos, e só olhando para esse espelho podemos ver nossas tolices. O aberto do futuro nos lembra que o trabalho do espelho ainda não terminou, e que de nossas ações no presente depende a imagem que deixaremos refletida no espelho do tempo.
(texto publicado na edição de junho da Revista da Sexta)