Não devemos nos apavorar com o fracasso.
Sucesso e fracasso são dois lados da mesma moeda, assim como coragem e medo, alegria e tristeza, vida e morte. Do mesmo modo que não podemos possuir de uma moeda apenas uma face, não podemos ter apenas sucesso, coragem, alegria e vida.
Sucesso é conseguir realizar uma tarefa a qual nos propomos, e fracasso é não consegui-lo. Mas a tarefa tem de ser difícil, a ponto de não sabermos de antemão se seremos bem-sucedidos.
O fracasso é sempre triste, uma frustração do desejo. Mas não é só isso. Significa que estamos buscando algo impossível ou fora do nosso alcance, ou então que não estamos buscando da maneira certa (talvez com muita pressa). É preciso refletir, para decidir se é o caso de desistir, e buscar outros desafios; ou de continuar procurando o mesmo alvo, corrigindo a postura e a mira.
De qualquer maneira, o medo, ou melhor, ser dominado pelo medo do fracasso não leva ao sucesso. Ao contrário, leva à apatia. Para não fracassar, evitamos planejar caminhos difíceis e incertos. Fazemos apenas aquilo que temos a certeza de conseguir sem esforço, mas que, se não nos ameaça com a frustração do fracasso, também nunca poderá nos dar a satisfação do sucesso. Ficamos amargos, reclamando da vida, do destino, do governo, do calor, do frio...
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sexta-feira, 12 de setembro de 2014
Medo
Que seria do homem sem o medo?
Talvez o próprio bem, virtude mais admirada, não existisse sem a colaboração do medo. Não estou dizendo que o bem não existe, que é um disfarce do medo, longe disso. Mas dificilmente alguém chegaria a ser bom se o medo não abrisse um vazio entre o desejo e a ação, entre a volúpia e a busca do prazer. É nesse vazio criado pelo medo que pode entrar o eu e o outro. É nesse vazio que surge o humano e a coragem de ser humano.
Talvez o próprio bem, virtude mais admirada, não existisse sem a colaboração do medo. Não estou dizendo que o bem não existe, que é um disfarce do medo, longe disso. Mas dificilmente alguém chegaria a ser bom se o medo não abrisse um vazio entre o desejo e a ação, entre a volúpia e a busca do prazer. É nesse vazio criado pelo medo que pode entrar o eu e o outro. É nesse vazio que surge o humano e a coragem de ser humano.
Egoísmo
Ao ensinar compaixão ao rei Pasenadi de Kosala, o Buda diz: “Quem ama o eu, não deve ferir o eu do outro”. Para muitos, o Buda buscava apenas falar à mente do rei, que se confessara por demais apegado. Mas é possível também outra interpretação. Talvez o Buda tenha reconhecido o egoísmo como raiz fundamental do amor-próprio e da compaixão. Cortada a raiz do egoísmo, a compaixão ou morre ou se deforma.
Quem ama a si, ao se colocar no lugar do outro, sente compaixão.
Mas quem despreza a si mesmo, ao se posicionar no lugar do outro, só consegue sentir indiferença, desrespeito, ódio.
Quem ama a si, ao se colocar no lugar do outro, sente compaixão.
Mas quem despreza a si mesmo, ao se posicionar no lugar do outro, só consegue sentir indiferença, desrespeito, ódio.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
3x4 na rodoviária do Plano Piloto
A mãe batia palmas por cima da cabeça. 4 ou 5 curiosos completavam o público do breve espetáculo. Em pé no banquinho que fazia as vezes de palco compulsório, a menininha, de vestido novo e cachinhos pretos cuidadosamente arrumados, pendia a cabeça e olhava fixamente para baixo. Era a única maneira de não ver a mãe batendo palmas, atraindo mais gente para vê-la tirar o retrato. O fotógrafo sorria e aguardava que a menina erguesse a cabeça.
Segui meu caminho sem ver o desfecho da cena (drama para a menina, comédia para o público).
Seria bom que a mãe desistisse e pedisse ao fotógrafo que batesse a foto da menina assim mesmo, olhando para baixo. O 3x4 não ia servir para o documento, mas seria um belo registro da menina que, não podendo impedir o olhar dos outros, recusou-se a olhar os outros que a olhavam.
Segui meu caminho sem ver o desfecho da cena (drama para a menina, comédia para o público).
Seria bom que a mãe desistisse e pedisse ao fotógrafo que batesse a foto da menina assim mesmo, olhando para baixo. O 3x4 não ia servir para o documento, mas seria um belo registro da menina que, não podendo impedir o olhar dos outros, recusou-se a olhar os outros que a olhavam.
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Brasilia: moradores e passageiros
As pessoas daqui sentem pena de mim por ter saído de Minas, "uma terra tão boa", para vir morar em Brasília.
Minas é uma terra boa, mas o Distrito Federal também é.
Muitos moradores de Brasília não gostam daqui porque vieram por necessidade, atrás de emprego. Eu, ao contrário, quis vir pra cá e estou gostando.
Mas mesmo quem está aqui por necessidade deveria aprender a máxima de Sêneca: querer o mesmo que a necessidade o força a fazer.
Minas é uma terra boa, mas o Distrito Federal também é.
Muitos moradores de Brasília não gostam daqui porque vieram por necessidade, atrás de emprego. Eu, ao contrário, quis vir pra cá e estou gostando.
Mas mesmo quem está aqui por necessidade deveria aprender a máxima de Sêneca: querer o mesmo que a necessidade o força a fazer.
domingo, 26 de janeiro de 2014
A vida é problema, tentativa de solução, e pausa,
A vida é problema, e solução,
Homeopatia, acupuntura ou floral. Cristianismo, budismo ou taoísmo. Espiritismo ou meditação transcendental. Psicologia ou psicanálise (freudiana, junguiana, lacaniana ou existencialista).
Tudo isso funciona, desde que você esteja disposto a encarar os seus problemas, buscar as soluções e se esforçar.
É o sempre novo e difícil ensinamento de não se revoltar com o cisco no olho do outro, mas observar e tirar a trava dos nossos olhos. Porque tanto problema como solução não estão fora de nós.
O filósofo Karl Popper propôs que a essência da vida e da mente humana é a percepção de problemas e as tentativas de resolver esses problemas. Mas não podemos esquecer que as pausas (o sono, o domingo, o dolce far niente) também são essenciais. Então, corrigindo: a vida é problema, tentativa de solução, e pausa,
Homeopatia, acupuntura ou floral. Cristianismo, budismo ou taoísmo. Espiritismo ou meditação transcendental. Psicologia ou psicanálise (freudiana, junguiana, lacaniana ou existencialista).
Tudo isso funciona, desde que você esteja disposto a encarar os seus problemas, buscar as soluções e se esforçar.
É o sempre novo e difícil ensinamento de não se revoltar com o cisco no olho do outro, mas observar e tirar a trava dos nossos olhos. Porque tanto problema como solução não estão fora de nós.
O filósofo Karl Popper propôs que a essência da vida e da mente humana é a percepção de problemas e as tentativas de resolver esses problemas. Mas não podemos esquecer que as pausas (o sono, o domingo, o dolce far niente) também são essenciais. Então, corrigindo: a vida é problema, tentativa de solução, e pausa,
A falecida, de Nelson Rodrigues
Em A falecida, homens e mulheres vivem em mundos completamente diferentes e mutuamente incompreensíveis. A peça gira em torno do casal Zulmira e Tuninho; ele desempregado e ela doente. Enquanto Zulmira está obcecada em conseguir um enterro de luxo para si, Tuninho só pensa no Vasco x Fluminense de Domingo. De maneira genial, jogo e enterro vão acontecer no mesmo dia.
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