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quinta-feira, 18 de março de 2010

LIVROS, LIVROS

Chão em chamas e Pedro Páramo – Recentemente recomendei Pedro Páramo, o romance de Juan Rulfo. Mas depois li seus contos de Chão em Chamas, que são verdadeiras preciosidades. Juan Rulfo une com perfeição a beleza da descrição do cenário árido do México com a narrativa das histórias de seus personagens. Cada conto é uma obra-prima, que temos vontade de ler, reler, reler...

Sagarana e Grande Sertão: Veredas – O estilo de Guimarães Rosa é completamente diferente do estilo de Juan Rulfo. Mas parece que esses dois escritores estão unidos por um fio invisível. Os dois, depois de maduros, encontraram nas recordações da natureza e do povo de seus sertões o ambiente ideal para construírem suas estórias, que são seus saltos poéticos para o universal. Os dois, cada um a seu jeito, eram muito exigentes com a sua ferramenta de trabalho, a linguagem. Por isso, posso recomendar Sagarana e Chão em chamas, pois são o mergulho inaugural, por meio de contos, desses poetas nos sertões míticos que suas obras criam. Parece que o sertão de Rosa é mais caudaloso do que o de Juan Rulfo: seus contos e seu romance são maiores, e ele continuou a produzir novelas e contos depois de Grande Sertão: Veredas, enquanto Juan Rulfo parou de escrever. Mas Sagarana e Grande Sertão dão ampla visão da obra de Guimarães Rosa, e pagam com juros o esforço para se familiarizar com seu mundo e sua linguagem.

Sonata a Kreutzer e A morte de Ivan Ilicht – Tolstói, aristocrata e escritor já reconhecido por seus romances Guerra e Paz e Ana Karienina, às vésperas de completar 50 anos de idade entra em uma crise espiritual que quase o leva ao suicídio. Mais tarde, essa crise iria ganhar expressão literária em duas pequenas obras primas: A morte de Ivan Ilitch (92 páginas) e Sonata a Kreutzer (117 páginas). Os personagens, depois de situações limites, encarnam o esgotamento de sentido da vida orientada apenas para objetivos terrenos e egoístas, ligados à manutenção de uma boa imagem na sociedade. São dois retratos do projeto de vida moderno voltado para o sucesso individual, e uma crítica corrosiva a esse modelo, em que relações como casamento, paternidade e trabalho se esvaziam de seu sentido sagrado e sobrevivem apenas como farsa ou tragédia.

Maomé (uma biografia do profeta) e A Bíblia (uma biografia) – O primeiro já seria recomendado apenas pela narrativa da história de Maomé, do Islã e do Alcorão, objetos de muito preconceito e pouco conhecimento. Mas, como sempre, Karen Armstrong acrescenta reflexões sobre o significado profundo de palavras tão mal compreendidas hoje em dia, como fé, religião, Deus, monoteísmo e compaixão. A Bíblia, como o Alcorão, pode ter seus significados deturpados se não entendemos o contexto em que foi escrita. A deturpação de suas mensagens pode vir quer de seus detratores quer de seguidores que querem ver suas vontades ali expressas. Assim, embora ainda não tenha lido, também recomendo A Bíblia (uma biografia).

Comédias da vida privada – Falei de livros que nos levam a perceber o que nossos sentidos e nossa mente não alcançam: o eterno. Mas quem disse que só o sofrimento e a morte em terras e épocas distantes podem nos aproximar dessa revelação? Luis Fernando Verissimo desarma pelo riso e mostra a eternidade impregnada em cada pequeno acontecimento do cotidiano, como nesse diálogo entre o médico e o futuro pai ou futura mãe na sala de ultra-som:



“— Vai ser homem ou mulher, doutor?
— Não dá para ver. Só sei que vai ser "hacker".
— Por que?
— Ele está interferindo, lá de dentro, na leitura do aparelho.
— Só me diz uma coisa, doutor. Ele ou ela vai nos dar desgostos ou alegrias? Vai ser companheiro ou companheira ou vai nos rejeitar? Vai nos deixar orgulhosos ou pensando em fracassos? Vai ser um amor ou uma peste?
— Vai.”
(Texto de junho de 2008)

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