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terça-feira, 9 de junho de 2009

Antifilme Dúvida

O filme Dúvida deixa o espectador desconfortável. Primeiro, porque em parte vamos ao cinema e ao teatro como voyeur, para ver o que não vemos no dia-a-dia. E no filme Dúvida não se vê quase nada; os principais acontecimentos permanecem ocultos aos olhos. Mas é justamente nesse ocultar que o filme combina brilhantemente seu assunto com o modo como é feito. Normalmente num filme os acontecimentos principais são mostrados, mais cedo ou mais tarde, o que permite a quem assiste sair seguro da "verdade" da sala de cinema. Em "Dúvida", não vemos quase nada do que acontece, só temos acesso ao que é falado, às fofocas, sobre os acontecimentos, como na vida. No filme, isso acaba por nos deixar em dúvida. Na vida, estranhamente, apesar de não vermos também quase nada, na maior parte do tempo temos plena confiança em nossas ilações. Mas, às vezes, também, por um motivo ou outro, desmoronamos de nossas certezas, como aconteceu com a freira conservadora no final do filme.
Leia a crítica do filme Dúvida escrita por Branca Machado em http://machadobranca01.blogspot.com/2009/10/blog-post.html

Colagem II

"Hoy estoy peor que ayer, pero mejor que mañana"
(Novellis – Balcarce)

"Hoje estou pior que ontem, mas melhor que amanhã."

Em uma música, o significado é percebido e reforçado na divina confusão de ritmo, melodia e letra. A frase acima é cantada numa música carnavalesca do grupo argentino La Mosca, com muita alegria. E me parece uma boa filosofia de vida. Se alguém se convencer que a vida é uma ladeira abaixo, e disso fizer uma alegria, transformará a vida numa festa. Afinal, se a tendência é que as coisas estejam piores no futuro, e o ontem não volta, o hoje deve ser visto com um novo olhar, como o melhor momento que tenho. Aliás, a tendência de considerar que as coisas vão melhorar no futuro, ou até depois da morte, é uma das maiores causas de desperdício de vida.
"As idéias estão no chão, você tropeça e acha a solução"
(Sergio Britto – Paulo Miklos – Branco Mello)
A música dos Titãs fala direto àqueles que estão desesperados, ou desesperando, ao pensar muito na vida. Pensar na vida, mesmo sendo necessário, leva a esse desespero. Porque no pensamento a vida não tem solução. Então a música faz um chamamento a quem está perdido nos pensamentos: "Ponha os pés no chão e caminhe, vá à vida. É certo que a vida propõe problemas, mas para cada problema real que a vida te propor, também haverá uma solução, no chão, ao seu alcance."

Pensar muito na vida, preocupando-se, transforma o breve momento em permanência, a leveza em gravidade. Um avião parado pesa muito, mas coloque-o em movimento e ele irá voar. Com a vida acontece de forma diferente: naturalmente ela está em movimento, leve, mas as mentes preocupadas freiam o movimento natural da vida, tornando-a pesada.

"E o que foi feito é preciso conhecer, para melhor prosseguir"
(Milton Nascimento – Fernando Brant)

Para viver bem, é fundamental conseguir se posicionar mentalmente no tempo e espaço presentes. Mas o presente sem considerar o passado e o futuro não é nada. E quem tenta "viver o momento", sem memória e sem objetivos, sem perceber a conexão desse momento com a linha do tempo, sente-se perdido entre alguns momentos de euforia e uma sensação geral de desânimo, de desperdício. O passado é um espelho que reflete quem somos, e só olhando para esse espelho podemos ver nossas tolices. O aberto do futuro nos lembra que o trabalho do espelho ainda não terminou, e que de nossas ações no presente depende a imagem que deixaremos refletida no espelho do tempo.
(texto publicado na edição de junho da Revista da Sexta)