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sábado, 10 de abril de 2010

Fedro, de Platão

Na escolha do amante ou da amante, qual o fator fundamental, a razão ou o coração, a análise de dados sobre o parceiro (ou parceira) ou o desejo? A lógica por trás das agências de encontro é que o mais importante é o uso da razão, enquanto na maioria das músicas, nos poemas e nos romances quem deve ser ouvido em primeiro lugar é o coração.

Esse é o assunto em torno do qual o diálogo Fedro, de Platão, se desenvolve. Fedro, depois de levar Sócrates para fora dos muros da cidade, senta-se à sombra de uma árvore para ler o discurso em que Lísias tratou do assunto. No discurso, Lísias se coloca na posição de um pretendente não apaixonado que tenta convencer o parceiro de que é melhor se enamorar de um pretendente não apaixonado do que de um apaixonado. A argumentação louva a sensatez de quem não está apaixonado, e censura a loucura momentânea de quem está tomado pela paixão.

Sócrates não concorda com o entusiasmo de Fedro pela qualidade do discurso de Lísias. Ainda sem entrar no mérito da questão, da qual se declara ignorante, Sócrates aceita o desafio de produzir um discurso melhor do que o de Lísias, com o mesmo objetivo, qual seja, argumentar a favor da preferência que deve ser dada ao não apaixonado. De fato, o discurso de Sócrates é bem superior ao de Lísias. Além disso, há dois detalhes significativos no discurso de Sócrates: o primeiro é que Sócrates faz o discurso com a cabeça coberta por um pano, provavelmente envergonhado pelo fato de reproduzir o que ouviu falar, em vez de buscar por si a verdade sobre o tema. O segundo detalhe é que, diferentemente do discurso de Lísias, o seu não é proferido por um não apaixonado, mas por um apaixonado que finge que não está apaixonado.

Depois de seu discurso, apesar da admiração imediata de Fedro, Sócrates não se sente bem. Revela que durante todo o tempo em que proferia o discurso estava aflito, e o daimon, algo como seu anjo da guarda ou sua consciência, havia-lhe proibido de sair antes de se purificar por alguma falta que tenha cometido contra os deuses. Sócrates entende que Eros (o Amor Paixão) é um Deus e portanto não é possível que seja de modo algum mau. Anuncia, então, que para se purificar fará um terceiro discurso, que pretende ser sua retratação com Eros, agora com sua cabeça exposta. O terceiro discurso é bem diferente do segundo, já que a preocupação fundamental não é convencer, mas buscar a verdade. Nesse discurso, Sócrates defende que, “niveladas outras coisas”, deve-se dar preferência ao amante, preterindo o não-amante. Como o principal argumento contra o amante é sua insensatez, o terceiro discurso começa com um inspirado elogio da loucura do amor, em particular, e de outras loucuras divinas. Depois do elogio da loucura, Sócrates faz uma longa e difícil digressão sobre a alma que chateia quem vinha acompanhando o diálogo preso ao tema central dos discursos.

Encerrada a retratação de Sócrates, os dois amigos continuam dialogando sobre os três discursos enquanto o calor os impede de retomar a caminhada. Nesse momento, quem conseguiu ficar acordado durante todo o terceiro discurso de Sócrates recebe um prêmio. O diálogo fica mais dinâmico, abordando diversos assuntos. Sócrates resgata o segundo discurso, concluindo que na realidade nenhum dos dois era totalmente falso, pois a loucura tem duas partes, uma positiva e outra negativa, e cada discurso tomou uma parte como se fosse a loucura toda, fazendo seu louvor ou sua censura conforme a parte dissecada. Há ainda um trecho brilhante sobre o valor, ou mais precisamente, sobre o pouco valor que tem o texto escrito, em contraste com o valor excessivo a ele atribuído pelos homens. É o cavalo de batalha de Sócrates: defender o valor da busca da sabedoria (filosofia) por meio do questionamento interminável em que se ocupou até a morte, e negar a possibilidade de a sabedoria ser encontrada, pronta e acabada, em um escrito. Sobre a denominação para aqueles que buscam a verdade Sócrates fala: “Penso que a designação sábio, Fedro, seria excessiva, cabendo exclusivamente a um Deus. Mas o nome filosofo, ou algo semelhante se lhe ajustaria melhor e lhe seria mais conveniente”.

6 comentários:

  1. Qual a relação do discurso vivo com a dialética dos sofistas?

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  2. Não sei se vai ajudar ou até mesmo responder. Também quase um ano depois de sua pergunta, né?rsrs... Estou começando agora em filosofia
    e , penso eu, que, a relação é exatamente o discurso. O discurso proferido tem a característica dialética e ao mesmo tempo, traz uma certa verdade. Porém esta relação tem um limite onde os sofistas querem convencer por convencer com bons argumentos, mas "destrutivos". Quanto o discurso vivo quer converncer a conhecer, com argumentos "construtivos", somente pelo conhecimento.

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  3. Sei o quanto o difícil entender Platão, você conseguiu um texto claro, e instigante. Obrigada. Sucesso!

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  4. No diálogo do fedro,o que podemos encontrar sobre estética, a arte do belo?

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  5. No diálogo do fedro,o que podemos encontrar sobre estética, a arte do belo?

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