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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Eleições 2014 - Por que Aécio perdeu em Minas Gerais?

Há uma tese muito difundida, e aceita geralmente sem crítica, de que o problema do ser humano é que a sua inteligência é desenvolvida, mas a bondade não. Ou seja, o homem é fundamentalmente inteligente e mau. O filósofo Karl Popper me convenceu da tese contrária: o homem é fundamentalmente bom, mas burro. O problema é que a confiança na capacidade intelectual faz o homem se agarrar à primeira teoria que lhe parece razoável, algo semelhante ao imprinting animal. Por isso, Karl Popper achava que uma das principais funções do filósofo era criticar teses aceitas acriticamente pelas pessoas.

Uma tese muito difundida nessas Eleições afirma que a derrota de Aécio em Minas Gerais significa desaprovação ao período em que foi governador: “Quem conhece, não vota em Aécio”. É muito difícil explicar as preferências eleitorais de cada Estado, mas um olhar cuidadoso no quadro abaixo é suficiente para criticar a supersimplificação da tese da rejeição de Minas Gerais a Aécio, aceita quase universalmente.


Eleições Presidenciais (2º turno)

2002
2006
2010
2014
PT
66,45%
65,19%
58,45%
52,41%
PSDB
33,55%
34,80%
41,55%
47,59%

Fonte dos dados: uol.com.br

Eleições 2014 - Eleitos e Eleitores

Resultado das Eleições 2014 pra presidente, em relação aos 142.820.166 eleitores:

Dilma (PT): 38,17%
Aécio (PSDB): 35,74%
Branco: 1,34%
Nulo: 3,65%
Abstenções: 21,10%

Obs:

1. Parabéns, presidente Dilma, que você faça um governo que corresponda à confiança que seus eleitores depositaram em você.

2. A grande votação do Aécio indica que boa parte dos eleitores espera mudanças.

3. Não concordo com a avaliação simplista dos eleitores que tem sido feita com base na escolha do voto. Acredito que a maioria dos eleitores fizeram suas escolhas porque acreditaram que era a melhor opção para um Brasil mais justo, mais humano, com menos miséria e desigualdades; um Brasil em que todos os cidadãos, independemente de cor, situação social, religião, opinião e inclinação sexual, tenham tratamento digno.

4. Os argumentos contra a obrigatoriedade do voto nunca me convenceram. Vendo este índice de abstenção estou mais convencido de que o voto é um dever de todos, e portanto deve ser obrigatório.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Fracasso

Não devemos nos apavorar com o fracasso.

Sucesso e fracasso são dois lados da mesma moeda, assim como coragem e medo, alegria e tristeza, vida e morte. Do mesmo modo que não podemos possuir de uma moeda apenas uma face, não podemos ter apenas sucesso, coragem, alegria e vida.

Sucesso é conseguir realizar uma tarefa a qual nos propomos, e fracasso é não consegui-lo. Mas a tarefa tem de ser difícil, a ponto de não sabermos de antemão se seremos bem-sucedidos.

O fracasso é sempre triste, uma frustração do desejo. Mas não é só isso. Significa que estamos buscando algo impossível ou fora do nosso alcance, ou então que não estamos buscando da maneira certa (talvez com muita pressa). É preciso refletir, para decidir se é o caso de desistir, e buscar outros desafios; ou de continuar procurando o mesmo alvo, corrigindo a postura e a mira.

De qualquer maneira, o medo, ou melhor, ser dominado pelo medo do fracasso não leva ao sucesso. Ao contrário, leva à apatia. Para não fracassar, evitamos planejar caminhos difíceis e incertos. Fazemos apenas aquilo que temos a certeza de conseguir sem esforço, mas que, se não nos ameaça com a frustração do fracasso, também nunca poderá nos dar a satisfação do sucesso. Ficamos amargos, reclamando da vida, do destino, do governo, do calor, do frio...

Medo

Que seria do homem sem o medo?

Talvez o próprio bem, virtude mais admirada, não existisse sem a colaboração do medo. Não estou dizendo que o bem não existe, que é um disfarce do medo, longe disso. Mas dificilmente alguém chegaria a ser bom se o medo não abrisse um vazio entre o desejo e a ação, entre a volúpia e a busca do prazer. É nesse vazio criado pelo medo que pode entrar o eu e o outro. É nesse vazio que surge o humano e a coragem de ser humano.

Egoísmo

Ao ensinar compaixão ao rei Pasenadi de Kosala, o Buda diz: “Quem ama o eu, não deve ferir o eu do outro”. Para muitos, o Buda buscava apenas falar à mente do rei, que se confessara por demais apegado. Mas é possível também outra interpretação. Talvez o Buda tenha reconhecido o egoísmo como raiz fundamental do amor-próprio e da compaixão. Cortada a raiz do egoísmo, a compaixão ou morre ou se deforma.

Quem ama a si, ao se colocar no lugar do outro, sente compaixão.

Mas quem despreza a si mesmo, ao se posicionar no lugar do outro, só consegue sentir indiferença, desrespeito, ódio.


quinta-feira, 8 de maio de 2014

3x4 na rodoviária do Plano Piloto

A mãe batia palmas por cima da cabeça. 4 ou 5 curiosos completavam o público do breve espetáculo. Em pé no banquinho que fazia as vezes de palco compulsório, a menininha, de vestido novo e cachinhos pretos cuidadosamente arrumados, pendia a cabeça e olhava fixamente para baixo.  Era a única maneira de não ver a mãe batendo palmas, atraindo mais gente para vê-la tirar o retrato. O fotógrafo sorria e aguardava que a menina erguesse a cabeça.

Segui meu caminho sem ver o desfecho da cena (drama para a menina, comédia para o público).

Seria bom que a mãe desistisse e pedisse ao fotógrafo que batesse a foto da menina assim mesmo, olhando para baixo. O 3x4 não ia servir para o documento, mas seria um belo registro da menina que, não podendo impedir o olhar dos outros, recusou-se a olhar os outros que a olhavam.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Brasilia: moradores e passageiros

As pessoas daqui sentem pena de mim por ter saído de Minas, "uma terra tão boa", para vir morar em Brasília.
Minas é uma terra boa, mas o Distrito Federal também é.
Muitos moradores de Brasília não gostam daqui porque vieram por necessidade, atrás de emprego. Eu, ao contrário, quis vir pra cá e estou gostando.
Mas mesmo quem está aqui por necessidade deveria aprender a máxima de Sêneca: querer o mesmo que a necessidade o força a fazer.

domingo, 26 de janeiro de 2014

A vida é problema, tentativa de solução, e pausa,

A vida é problema, e solução,

Homeopatia, acupuntura ou floral. Cristianismo, budismo ou taoísmo. Espiritismo ou meditação transcendental. Psicologia ou psicanálise (freudiana, junguiana, lacaniana ou existencialista).

Tudo isso funciona, desde que você esteja disposto a encarar os seus problemas, buscar as soluções e se esforçar.

É o sempre novo e difícil ensinamento de não se revoltar com o cisco no olho do outro, mas observar e tirar a trava dos nossos olhos. Porque tanto problema como solução não estão fora de nós.

O filósofo Karl Popper propôs que a essência da vida e da mente humana é a percepção de problemas e as tentativas de resolver esses problemas. Mas não podemos esquecer que as pausas (o sono, o domingo, o dolce far niente) também são essenciais. Então, corrigindo: a vida é problema, tentativa de solução, e pausa,

A falecida, de Nelson Rodrigues

Em A falecida, homens e mulheres vivem em mundos completamente diferentes e mutuamente incompreensíveis. A peça gira em torno do casal Zulmira e Tuninho; ele desempregado e ela doente. Enquanto Zulmira está obcecada em conseguir um enterro de luxo para si, Tuninho só pensa no Vasco x Fluminense de Domingo. De maneira genial, jogo e enterro vão acontecer no mesmo dia.