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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Não vai ser um FELIZ NATAL, nem um PRÓSPERO ANO NOVO

Vai haver escuridão e trevas.

Você pode ter esperança de alegrias, de realizações, de encontros amorosos, e, principalmente, de renascer a cada pancada que a vida possa dar. Mas a ideia de uma vida e um mundo iluminado e perfeito que é vendida nesta época do ano não vai rolar. 

Você pode fazer um grande esforço para ser menos estúpido do que tem sido, e desse modo evitar alguns sofrimentos e encontrar alguma felicidade, apesar da escuridão. Mas, mesmo assim, nada está garantido.

Há ainda a esperança de que o mundo melhore, dependendo também do nosso esforço para sermos menos tolos e egoístas. Mas um mundo maravilhoso chegando com data marcada, esqueça. Essa ideia (porque falsa e tão longe do que podemos esperar alcançar) me deixa tão desanimado quanto o oposto niilista de mundo e homens condenados, sem qualquer esperança de sentido.

O natal simbolicamente é uma luz frágil no meio da noite mais longa do ano. Um bebê, uma vela, que precisa de cuidados. Jesus amou, bebeu vinho, defendeu os sofredores, fez amigos; mas também sofreu, foi traído e morreu. A ressurreição é a eterna e frágil esperança, que nada pode sem nossa participação.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O filho eterno, de Cristovão Tezza


Em O filho eterno, o escritor Cristovão Tezza ousou narrar com a sinceridade da literatura sua vida do ponto de vista do relacionamento de 25 anos com Felipe, o filho mongoloide. A palavra é forte, o pai em pouco tempo não conseguirá mais pronunciá-la, dirá que tem um filho com mongolismo (em 1980, ano do nascimento do filho, ninguém sabia o que era síndrome de Down). 

Mas o narrador não é o pai. O foco narrativo é em terceira pessoa: no princípio ele, depois também o pai, mas nunca será nomeado. Somente Felipe, o filho eterno, é chamado pelo nome próprio. A história do pai,  que conheceremos desde a infância por meio de flashbacks,  é uma busca confusa por uma essência: ator de teatro, relojoeiro, aventureiro, marinheiro, professor, marido, pai; seu traço mais constante é a obsessão de se tornar escritor, com livros publicados e lidos.

O foco narrativo em terceira pessoa é usado não apenas para narrar os acontecimentos, mas principalmente para revelar os pensamentos mais secretos do pai, a cada momento de sua difícil travessia. Permite ainda distanciamento emocional do narrador e uma riqueza narrativa impossível na primeira pessoa, alternando o presente histórico, que predomina, com os outros tempos narrativos.

A opção pela ficção é a opção por um relato verdadeiro, que seria impossível em uma autobiografia. Todos nós temos o direito (e até o dever) à ficção do eu. Afinal, o eu, na medida do possível, não é egoísta, não odeia, não perde a paciência, não bate, não quer fugir da esposa e do filho, não deseja a morte de ninguém.

O enredo, um pai tentando ser um escritor e um filho com Down, pode afastar muitos leitores. Besteira. Um dos méritos da literatura é nos aproximar de mundos desconhecidos e derrubar barreiras. Além disso, a história narrada é a ponte para o escritor falar sobre tudo. Sobre o tempo, sobre a família, sobre a normalidade e o diferente, e sobre coisas banais, como uma cidade e um nome.