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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sobre Babel e o pluralismo

"A unanimidade é uma burrice" (Nelson Rodrigues)
“Se não houvesse uma Babel, seria preciso inventá-la” (Karl Popper)
A história narrada no capítulo 11 do Gênesis é curta e simples. Todos os homens falam a mesma língua e as mesmas palavras. Todos andam na mesma direção e encontram um vale onde se estabelecem. Todos concordam em criar uma cidade, dar-lhe um nome e construir uma torre que penetre os céus. Deus desce para ver o que os homens estão fazendo e não gosta nem um pouco. Resolve então confundir a linguagem dos homens para que não mais se entendam uns aos outros, cessem de construir a cidade e dispersem por toda a terra. A cidade abandonada com sua imensa torre passa a ser conhecida como Babel, nome derivado do termo hebraico para “confundir”, porque ali Deus confundiu a linguagem dos habitantes da terra e os dispersou.
O mais interessante não é a história, mas nossa relação com ela. Parece que temos uma profunda nostalgia dessa cidade antes da dispersão, e desses homens que caminham unidos na mesma direção, seguem os mesmos planos e falam a mesma língua e as mesmas palavras. As palavras Babel e confusão são tomadas com frequência em sentido pejorativo, como se fossem invenções do Diabo ou um nebuloso castigo divino.
Como nos custa entender que a confusão das línguas, a dispersão dos caminho e as discordâncias são abençoadas, enquanto a busca pela uniformidade de palavras e objetivos nos leva ao inferno e à construção de tristes cidades desabitadas. Às vezes nossos sonhos, mesmo os mais belos, nos enganam. Somente a experiência, a História e a reflexão crítica podem nos mostrar os infernos que percorremos tentando submeter os homens a uma idéia única: inquisição, terror, nazismo, comunismo e outras tiranias.
E não é só isso: a reflexão sobre Babel abre caminho para refletirmos sobre nossas intolerâncias familiares, nossos ódios cotidianos, e até a intolerância e as guerras que travamos no interior de nossas almas quando não aceitamos o pluralismo de desejos, caminhos e palavras que nos habita.
(Crônica publicada na Revista da Sexta de agosto/2009)