AVALIE, COMENTE, CRITIQUE; QUERO SABER SUA OPINIÃO

terça-feira, 9 de junho de 2009

Colagem II

"Hoy estoy peor que ayer, pero mejor que mañana"
(Novellis – Balcarce)

"Hoje estou pior que ontem, mas melhor que amanhã."

Em uma música, o significado é percebido e reforçado na divina confusão de ritmo, melodia e letra. A frase acima é cantada numa música carnavalesca do grupo argentino La Mosca, com muita alegria. E me parece uma boa filosofia de vida. Se alguém se convencer que a vida é uma ladeira abaixo, e disso fizer uma alegria, transformará a vida numa festa. Afinal, se a tendência é que as coisas estejam piores no futuro, e o ontem não volta, o hoje deve ser visto com um novo olhar, como o melhor momento que tenho. Aliás, a tendência de considerar que as coisas vão melhorar no futuro, ou até depois da morte, é uma das maiores causas de desperdício de vida.
"As idéias estão no chão, você tropeça e acha a solução"
(Sergio Britto – Paulo Miklos – Branco Mello)
A música dos Titãs fala direto àqueles que estão desesperados, ou desesperando, ao pensar muito na vida. Pensar na vida, mesmo sendo necessário, leva a esse desespero. Porque no pensamento a vida não tem solução. Então a música faz um chamamento a quem está perdido nos pensamentos: "Ponha os pés no chão e caminhe, vá à vida. É certo que a vida propõe problemas, mas para cada problema real que a vida te propor, também haverá uma solução, no chão, ao seu alcance."

Pensar muito na vida, preocupando-se, transforma o breve momento em permanência, a leveza em gravidade. Um avião parado pesa muito, mas coloque-o em movimento e ele irá voar. Com a vida acontece de forma diferente: naturalmente ela está em movimento, leve, mas as mentes preocupadas freiam o movimento natural da vida, tornando-a pesada.

"E o que foi feito é preciso conhecer, para melhor prosseguir"
(Milton Nascimento – Fernando Brant)

Para viver bem, é fundamental conseguir se posicionar mentalmente no tempo e espaço presentes. Mas o presente sem considerar o passado e o futuro não é nada. E quem tenta "viver o momento", sem memória e sem objetivos, sem perceber a conexão desse momento com a linha do tempo, sente-se perdido entre alguns momentos de euforia e uma sensação geral de desânimo, de desperdício. O passado é um espelho que reflete quem somos, e só olhando para esse espelho podemos ver nossas tolices. O aberto do futuro nos lembra que o trabalho do espelho ainda não terminou, e que de nossas ações no presente depende a imagem que deixaremos refletida no espelho do tempo.
(texto publicado na edição de junho da Revista da Sexta)

Um comentário:

  1. Olá, amigo Roberto. Há quanto tempo!

    Hoje eu estive pensando sobre a questão da confusão mental, que é aqui e ali retratada nesse texto seu, e gostaria de dividir com você minhas impressões.

    Penso que a todo instante somos desafiados a não permitir que nossos problemas transformem-se em confusão.
    Entre as várias abordagens que podemos tomar para discutir essa sensação, pensei agora em uma, que poderia ser denominada "etimológica".
    Confusão "ação de juntar, misturar", segundo o latim de Houaiss.
    Juntar e misturar, o quê?
    Talvez seja necessário ir mais fundo nessa definição, afinal a confusão não é uma mistura qualquer, uma vez que seja qual for, é uma receita que faz muito mal à saúde.
    Descobri um dicionário muito legal para estudantes de francês, como eu. Chama-se Trésor e é uma espécie de Super (sem exagero) Hoauiss.
    É interessante o que ele tem a dizer a respeito da palavra homóloga francesa "confusion".

    A primeira ocorrência da palavra, documentada pelo dicionário, data de 1100, e quer dizer "destruição". Pesado, não? Logo em seguida vêem "desordem", "distúrbio de pensamento", que nos são mais comuns. Continuando, temos outra surpresa, logo adiante: "vergonha", veja só! Adiante, "falta de clareza", já no século XVII!
    No entanto, diz o dicionário, para o latim cristão, ou era vergonha, ou destruição.

    De fato, parece que os dois significados têm assento perene na interpretação da palavra, quando ela quer traduzir um sentimento.
    Normalmente, a perplexidade diante de algo que não conseguimos solucionar de forma imediata pode simplesmente significar que devemos estudar, conhecer, ou pesquisar mais sobre o objeto; e normalmente é isso o que fazemos, quando não simplesmente decidimos já ter despendido tempo demais com aquele assunto, uma vez que temos mais o que fazer.
    No entanto, existem questões que chegam para nós armadas não somente de perplexidade, mas também de um sentimento de urgência e de responsabilidade pessoal sobre o resultado. Assim, esses sentimentos se misturam para gerar um monstrengo: o sentimento de humilhação, de vergonha, por nos sentirmos incapazes de fazer ou mesmo de viver aquilo que em nossa mente é obrigação ou mesmo nosso objetivo natural.
    Confusão, gerada por tal acasalamento, já nasce armada. Sua arma , a destruição nossa capacidade de "pensar com clareza" paralisa nossas forças e faz com que nos sintamos ainda mais envergonhados, ou seja, como um vírus, instrui nossa mente a produzir mais confusão!

    Como sair, então?
    Da mesma forma que o corpo aprende a dominar as instruções do vírus, tornando-as ineficazes, penso que podemos fazer o mesmo com a confusão. Se retirarmos dela a perna de apoio constituída na sensação de vergonha pela suposta "incapacidade", podemos voltar ao estado anterior, em que os problemas complexos que podem ser resolvidos são resolvidos com tempo e dedicação, e os que não podem ser resolvidos são solenemente ignorados, uma vez que "temos mais o que fazer"!
    Em tal ambiente, talvez seja muito difícil que a confusão possa sobreviver...

    ResponderExcluir