AVALIE, COMENTE, CRITIQUE; QUERO SABER SUA OPINIÃO

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A vida é uma merda maravilhosa!

Eu sou o tipo de maluco que tenta traduzir em palavras tudo o que vive. É como um esporte, do qual sou amador. Por isso leio muito. Para admirar os craques. Como um peladeiro que quer ver o Neymar jogar. Ou um “tenista” que não perde uma partida dos top ten.

Toda segunda-feira espero pelos textos de dois ídolos meus, craques das letras em plena atividade. A Eliane Brum publica uma coluna surpreendente toda segunda-feira no site da revista Época. O Gustavo Poli

– bem, o Gustavo Poli prometeu publicar toda segunda-feira durante o Brasileirão 2011 uma coluna no seu blog. Com texto de profissional, ele deixa escapar lances de amador. Faz promessas. Publica a coluna de segunda na terça ou na quarta. Em uma semana sem inspiração, fez um texto básico, uma versão light da sua coluna, só pra cumprir tabela. Enfim, é divertido ver um craque enrolado nessas tramas de amador.

Hoje, terça-feira, ainda sem o texto semanal do Gustavo Poli, lembrei que uma vez ele twittou a frase “promessa é dívida” para divulgar uma coluna que tinha sido publicada nos acréscimos do segundo tempo. Imediatamente pensei: “Promessa é dúvida”. E achei a frase bem bonita e verdadeira. Botei no Google, entre aspas. Fiquei um pouco decepcionado, mas não me surpreendi: 23.200 resultados para a frase “Promessa é dúvida”. Não é tanto assim, se compararmos com os 912.000 resultados para “promessa é dívida”.

Uma das diversões do escritor, profissional ou amador, é achar a frase. Não qualquer frase. Mas a frase. A frase exata que berre em silêncio o que o escritor quer dizer. Pois eu criei (criei?) uma variação moderna desse jogo.

O escritor fica do seu jeito habitual. Pensando, pensando em uma coisa por muito tempo. Depois mais um tempão tentando enfiar todo o pensamento em uma frase. E depois ajeitando a frase. Quando não desiste e encontra seu “eureka!”, vai no Google, escreve a frase entre parênteses, e descobre o seu grau de originalidade.

Mais tarde, nesta mesma terça-feira, estava pensando na coluna “Nada é só bom”, da Eliane Brum. (“Nada é só bom”, 12.400 resultados no Google, em grande parte provocados pela coluna.) Mas eu não pensava na frase, e sim no sentido da frase e da coluna. Muitas pessoas se tornam extremamente infelizes ao procurar uma vida feliz. Isso porque entendem que felicidade é uma vida perfeita, sem dor ou sofrimento. E não podem ser feliz porque para excluir a dor tiveram de excluir a própria vida. Para viver – e ser de algum modo feliz – é preciso ter coragem de encarar a imperfeição, a dor e os sofrimentos que vierem.

Ia mais ou menos pensando assim, quando me veio a frase: “A vida é uma merda maravilhosa”. Dois resultados no Google. O primeiro dá num tal de Hi5 que pede adesão. Acima da ficha de adesão uma propaganda que garante seu site na primeira página dos buscadores em dois dias. Suspeito. Não aderi. O segundo resultado, surpresa. Um conto sobre a tristeza da ausência de vida na vida: Mais adiante, ele chora, de Felipe S. “A vida é uma merda maravilhosa!”, frase que me levou ao conto, não estava no conto, mas em um comentário.

2 comentários:

  1. Ontem, de noite, acessei meu blog para postar uma poesia. Fiquei um tanto surpreso ao perceber um acesso um tanto quanto alto a um texto que eu havia escrito há cerca de um ano. Um conto chamado "Mais Adiante, ele chora", de Felipe S. (eu). Escolhi esse título para o texto porque o escrevi chorando, e ouvindo uma música do Pink Floyd, "Us and Them" ("Forward he cried" é um dos versos da música). A frase nos meus ouvidos me soou muito diferente do significado da letra da música. Talvez pelo momento que eu estava vivendo. "Mais adiante, ele chora", pra mim, porque eu esperava um dia cair e chorar por ter compreendido tudo isso, o mundo, a vida, eu mesmo. Algo como uma frase que eu vi o pai dizer para o filho no filme "A Árvore da Vida", muito tempo depois: "- Um dia você vai cair de joelhos e chorar, e entender tudo, todas as coisas...".
    De lá pra cá, as coisas mudaram. Como em todo processo, como em todo ciclo. Não digo que eu compreendi todas as coisas que eu gostaria de compreender, nem que deixei de chorar por ainda não compreendê-las. Mas mudou. O vazio que me cercava, eu me enganei, não estava fora e sim dentro de mim. Então resolvi, embora com muita dor ainda, procurar esse vazio, persegui-lo e ver o que ele tinha a me mostrar e sussurrar, além da sua escuridão e seu silêncio. Foi bom o resultado, eis-me aqui ainda. E para explicar como eu vi parar aqui, no seu blog, comentando em um texto que faz referência a um texto meu de um ano atrás, só me resta dizer que sou acometido pelo mesmo tipo de loucura: "Eu sou o tipo de maluco que tenta traduzir em palavras tudo o que vive."
    Hoje, pela manhã, quando voltei a entrar no blog pra tentar escrever algo, havia um link de acesso, desse blog. Resolvi clicar, e aqui estou.Um dia após o outro, e você tem suas respostas. Isso aumenta a minha esperança de um dia chorar de compreensão.
    Gostei muito desse texto, não por você haver me citado, mas porque ele é delicioso de ser lido, e, também, porque ele me mostra que eu, muito provavelmente, seja louco, mas não sou o único. E John Lennon já cantava isso.
    Só me resta, por fim, agradecê-lo. Por ter lido o texto, sabendo eu que você é um amante da leitura e, enfim, por tê-lo citado.


    Muito obrigado,

    Abraço!

    Felipe S.

    ResponderExcluir
  2. De nada. E muito obrigado pela canja no comentário, aumentando e aprofundando meu texto.

    ResponderExcluir