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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Teoria da conspiraçao

As teorias da conspiração geralmente nos agradam. Porque é nosso jeito natural de pensar.

Natural, mas, acredito, errado. A realidade não é o resultado de conspirações. Claro, na realidade há conspirações (geralmente contraconspirações, propostas por quem acredita na teoria da conspiração). Mas as conspirações não funcionam - a realidade simplesmente não se deixa comandar pelos planos dos conspiradores.

Karl Popper é o filósofo que estudou, criticou e chamou a atenção para os tristes caminhos que o homem tomou por acreditar em conspirações.

Veja um texto dele sobre teoria da conspiração:

Há uma concepção filosófica da vida que é muito influente e segundo a qual alguém tem de ser responsável quando algo ruim (ou algo extremamente indesejável) acontece neste mundo: alguém deve tê-lo feito, e intencionalmente. Essa concepção é bastante antiga. Em Homero, o ciúme e a ira dos deuses são responsáveis pela maioria dos eventos terríveis que ocorreram antes de Tróia e na própria cidade; e Posídon foi o responsável pelos errores de Odisseu. Mais tarde, no pensamento cristão, o Diabo é responsável pelo mal. E no marxismo vulgar é a conspiração de capitalistas gananciosos que impede a chegada do socialismo e o estabelecimento do reino dos céus na terra.

A teoria de que a guerra, a pobreza e o desemprego são as conseqüências de más intenções e planos sinistros é parte do senso comum, mas é não-crítica. A essa teoria não-crítica do senso comum dei o nome de teoria da conspiração da sociedade. (Também se poderia falar de teoria da conspiração do mundo: basta pensar no Zeus lançador de raios.) A teoria é muito difundida e, como busca por um bode expiatório, provocou perseguições e sofrimentos horríveis.

Um traço importante da teoria da conspiração da sociedade é que ela instiga conspirações reais. Mas um exame crítico mostra que conspirações dificilmente chegam a atingir seu objetivo. Lênin, que defendia a teoria da conspiração, foi um conspirador; como também Mussoline e Hitler. Mas os objetivos de Lênin não foram realizados na Rússia; tampouco os de Mussoline ou Hitler foram realizados na Itália ou na Alemanha.

Todos foram conspiradores porque acreditaram acriticamente numa teoria da conspiração da sociedade.

É uma contribuição modesta, mas talvez não de todo insignificante para a filosofia, chamar a atenção para os erros da teoria da conspiração da sociedade. Além disso, essa contribuição leva à descoberta do grande significado de conseqüências não-intencionais das ações humanas para a sociedade, como também à proposta de ver a tarefa das ciências sociais teóricas na explicação de fenômenos sociais como conseqüências não-intencionais de nossas ações.

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