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terça-feira, 6 de setembro de 2011

A nova era dos répteis



Estou tentando virar um réptil. Um jacaré, uma cobra, um lagarto ou uma tartaruga. Você já viu um réptil? Quase sempre parado. Independente. Frio. Sozinho. Silencioso. Fechado dentro de si.

Olho em volta e me sinto em casa: um mundo de adultos répteis, um pouco desajeitados com seus filhos mamíferos. Quando têm filhos.

Mas ainda não completei a mutação, o mamífero dentro de mim ainda resiste. Precisa de movimento, de bando, de contato, de ajudar alguns e depender de muitos.

E sabe o que é pior? Estou cheio de dores nas costas e no pescoço. Um mamífero não vira réptil impunemente.

2 comentários:

  1. Você nunca chegará a ser um réptil, nem mesmo um homem solitário por vontade própria, só se estiver muito "perturbado".
    Afinal de contas, o bom é podermos ter momentos de recolhimento e momentos de inter-comunicação com nossos pares. E principalmente poder viver prazerosamente esses momentos. Lembre-se que você é um Lobo! R.

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  2. Em seu livro Uma Breve História do Mundo, H.G. Wells chama a atenção para as diferenças profundas entre as criaturas do Mezozóico (peixes e répteis) e as criaturas do Cenozóico (aves e mamíferos). Ao ler sua descrição dos répteis, senti como se ele estivesse descrevendo, na realidade, o homem moderno individualista. O paralelo com as características dos mamíferos me deu a sensação de que o estilo de vida independente e pragmático muito enaltecido no século XX não era uma evolução, mas um retrocesso à mentalidade dos peixes e dos répteis.

    Não estou sugerindo, é claro, um reacionarismo que negue as conquistas da liberdade individual e queira reduzir o humano a animal de rebanho. Nem a divisão do humano em guetos que pensem mais ou menos da mesma maneira. Acho que o homem do século XXI deve aprender a conciliar a pluralidade com a vida em grupo, onde os indivíduos se preocupem e se relacionem uns com os outros, para além das diferenças individuais e de grupo.

    Transcrevo um longo trecho retirado das páginas 39 e 40 do livro Breve História do Mundo, na edição de bolso da L&PM:

    A mais fundamental de todas essas diferenças consiste na vida mental dos dois períodos. Ela provém, essencialmente, do contato contínuo entre genitor e cria, algo que distingue a vida mamífera, e em menor grau a dos pássaros, da vida do réptil. Com bem poucas exceções, o réptil abandona o ovo, e a cria nasce sozinha. O réptil jovem não tem nenhum conhecimento acerca de seu genitor; sua vida mental, nessas circunstâncias, começa e termina com suas próprias experiências. Ele pode tolerar a existência de seus companheiros, mas não tem comunicação nenhuma com eles; nunca os imita, nunca aprende com eles, é incapaz de levar adiante uma ação conjunta. Sua vida é a vida de um indivíduo isolado. Porém, com a amamentação e com a proteção carinhosa do filhote, fatores característicos das novas linhagens mamíferas e aviárias, surgiu a possibilidade do aprendizado pela imitação, da comunicação por gritos de alerta e por outras ações conjuntas, do controle e da instrução mútua. Uma forma de vida educável aparecera no mundo.
    (…)

    Os mamíferos mais antigos provavelmente se separavam de suas crias assim que terminasse o período de amamentação; uma vez que surgira a capacidade de entendimento mútuo, porém, as vantagens de dar continuidade ao relacionamento são muito grandes; e logo encontramos uma boa quantidade de espécies mamíferas dando sinais das origens de uma verdadeira vida social, com seus integrantes juntando-se em rebanhos, bandos e manadas, observando uns aos outros, imitando-se , sendo advertidos pelos atos e gritos dos outros. Trata-se de algo que o mundo jamais vira na vida dos animais vertebrados. Répteis e peixes podem sem dúvida ser encontrados em bandos e cardumes; eles saíram de seus ovos em grande número, e condições similares os mantiveram juntos, mas no caso dos sociais e gregários mamíferos o relacionamento não surge apenas de uma conjunção de forças externas; ele é sustentado por um impulso interno. Eles não são meramente parecidos uns com os outros, encontrados em função disso nos mesmos lugares ao mesmo tempo; eles gostam uns dos outros e por isso permanecem juntos.

    Essa diferença entre o mundo réptil e o mundo da nossa mentalidade humana é algo que nossa compreensão parece ser incapaz de absorver. Não somos capazes de conceber em nós mesmos a urgência ágil e descomplicada dos motivos instintivos de um réptil, seus apetites, medos e ódios. Não somos capazes de compreendê-los em sua simplicidade porque todos os nossos motivos são complicados; nossos motivos são contrapesados e consequentes, não são simples urgências. Mas os mamíferos e os pássaros têm um domínio sobre si mesmos e consideração pelos outros indivíduos, uma inclinação social, ou seja, um autocontrole, em seu nível mais primitivo, que se assemelha ao feitio humano. Nós podemos, por consequência, estabelecer relações com quase todas as espécies desses animais. Quando sofrem, eles emitem gritos e fazem movimentos que afetam os nossos sentimentos.

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