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sábado, 7 de março de 2015

As Aventuras de Pi, de Yann Martel

Acabei de ler A Vida de Pi (ou As Aventuras de Pi, por influência do título do filme no Brasil), de Yann Martel.

Piscine Molitor Patel (Pi Patel) conta duas histórias, uma fabulosa e outra verossímil: duas versões de sua sobrevivência no Pacífico em um bote salva-vidas depois do naufrágio do cargueiro TsimTsum.

A grande história do livro é a fábula. O outro relato, o "verdadeiro", tem um importante papel coadjuvante. Ele está ali para mostrar o contraste entre a crua realidade dos fatos, sem fermento, e o poder transformador das narrativas fabulosas.

O livro defende as grandes narrativas fabulosas, quer das religiões quer da literatura. Essas narrativas não estão aí para serem tomadas por fatos objetivos, como a narrativa que nossos sentidos faz da realidade. São mitos que existem para serem amados, vividos, abandonados e reinventados para, de repente, contaminar com sua magia a "realidade", enriquecendo-a de sentido.

Os sucessos conseguidos pela ciência, somados a uma má compreensão de como a ciência chegava a suas teorias, levou o homem moderno, a partir do século XVIII, a desconfiar de qualquer relato fantasioso, não compatível com a realidade observável. Estudiosos cristãos pensaram em produzir um novo testamento expurgando os milagres. Livros como As mil e uma noites foram considerados menores, infantis. Quem precisava continuar seguindo sua religião, começou a encarar seus mitos como relato literal da história, esvaziando-os de sua principal função metafórica.

Nada contra a literatura realista, mas em determinado momento somente o realismo era admitido. A fantasia era considerada ou infantil, ou contraproducente, ou mesmo perigosa.

Pi Patel sabe que não havia tigre de bengala, hiena nem ilha carnívora flutuante em sua aventura no Pacífico. Mas também sabe que a fábula que criou é a melhor história, e a mais verdadeira. A fábula é a história mais verdadeira, não porque reproduza os fatos com a fidelidade de uma câmera de vídeo, mas porque se aproxima da grandiosidade do sofrimento e do milagre que é a sua vida dentro do universo, explica e dá sentido ao seu minúsculo ser.

- Mas contar alguma coisa, usando as palavras, seja em inglês ou em japonês, já não é de certa forma uma invenção? O simples fato de olhar para esse mundo já não é de certa forma uma invenção?
- Hum...
- O mundo não é apenas do jeito que ele é. É também como nós o compreendemos, não é mesmo? E, ao compreender alguma coisa, trazemos alguma contribuição nossa, não é mesmo? Isso não faz da vida uma história?

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