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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Travessias

Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.
(João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas)


...estamos todos caminhando rumo a um mesmo destino, que não é nada espetacular. É preciso perceber a hora de tirar o pé do acelerador, afinal, quem quer cruzar a linha de chegada? Mil vezes curtir a travessia. (do texto cresça e divirta-se, de Martha Medeiros)

Nesse ano e meio fiz uma travessia. No sentido das travessias do Riobaldo em Grande Sertão. Travessia de rio. A gente conhece o ponto de partida, mira um ponto de chegada e se lança no rio, em uma canoinha trêmula e sem saber nadar. O real acontece mesmo durante a travessia e a gente não consegue agarrar. Só percebe quando chega do outro lado; mas sempre em um lugar novo mais abaixo no rio, diferente do destino que a gente tinha imaginado.

O que aprendi? Poucas coisas: que família é para a gente dar e receber, não para tirar e cobrar; que livre a gente tem de ser, não pedir por favor... Mas o que aprendi mesmo é que temos de nos lançar em novas travessias, sempre, enquanto vivermos. Pode parecer mais seguro ficar parado onde chegamos. Mas é ilusão. Na vida não se consegue ficar parado, praias são invenções. Ou bem nos lançamos ao rio, em busca de aventuras de descobertas, acertando e errando, trêmulos; ou, ainda que com vida, deixamos de viver, presos, querendo parar o que não se firma, repetir o que não se repete, voltar ao que já não há.
(Anotações de 2005)

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