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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Neste Natal, onde haja escuridão, que se acenda uma vela!

Embora não haja registro do dia em que Jesus nasceu, o Natal é comemorado no dia 25 de dezembro, desde que esta data foi escolhida no séc. IV pelo papa Julio I para celebração do nascimento do Salvador. Na época, no hemisfério norte o solstício de inverno caía no dia 25 de dezembro. No Império Romano já se comemorava no dia 25 de dezembro o Nascimento do Sol Invicto (Dies Natalis Invicti Solis), pois é no solstício de inverno que o Sol  que a cada dia vinha desaparecendo mais cedo, tornando os dias mais curtos – reverte sua trajetória e volta a iluminar a Terra, tornando a partir daí os dias cada vez mais longos. (Curiosamente, no hemisfério sul comemoramos o Natal no solstício de verão, quando o sol vai se afastando e os dias começam a ficar cada dia mais curtos.)

Comemora-se o nascimento de Jesus como o surgimento de uma luz que vem socorrer um mundo prestes a desaparecer nas trevas. E essa luz é Deus, e Deus é essa luz. Quem não reconhece este mesmo padrão, revivido de dez mil formas, na arte ou dentro de si mesmo? Quem não tem intimidade com um mundo que progressivamente perde a luz, esfria e parece fadado a sucumbir à falta de sentido? Um mundo que, no entanto, volta milagrosamente a ser iluminado e aquecido, volta a fazer sentido sem que se saiba exatamente como nem por quê.

Mas cada luz que nasce é sempre breve. Novamente irá sofrer, enfraquecer e morrer. Jesus morre crucificado. Quando as mulheres vão procurar pelo seu corpo, lhe falam: “Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo?” 

Dois discípulos tristes com a morte de Jesus encontram um desconhecido que lhes fala sobre a mensagem das escrituras, sem que isso possa lhes animar. Apenas quando esse desconhecido reparte o pão, os discípulos veem Jesus aparecer diante deles, para logo desaparecer. Pois Deus não nasceu quando Jesus nasceu nem morreu quando ele morreu. Deus (ou o Bem, ou o Amor, ou o Tao, ou o Nirvana, ou Buda, ou Alá, ou Brahman) está em cada um de nós e em cada fenômeno do mundo, embora muitas vezes só possa ser visto como ausência. E aparece quando dois ou três homens se reúnem e dividem o pão, não importa em que época, em que lugar ou as palavras que eles falem.

Será que também hoje não vivemos dias tão sofridos, em que as trevas avançam, e as disputas religiosas nos põem diante da escolha entre viver sem religião ou seguir líderes fanáticos que mais escondem do que revelam Deus? Será que devemos procurar entre os mortos o que está vivo? Ou já é tempo de nascer uma nova forma de religiosidade, que na realidade é a forma antiga adaptada aos tempos de hoje?

A Escada Espiral, de Karen Armstrong
“O que nosso mundo precisa agora não é crença nem certeza, mas compaixão ativa e respeito, expresso na prática, pelo valor sagrado de todos os seres humanos, inclusive de nossos inimigos.”

Nessa época natalina, vejo a estrela de Belém indicando o livro “A escada espiral”, de Karen Armstrong. A autora apresenta, por meio de suas memórias e de seus dilemas pessoais, os dilemas da modernidade diante da religião, e aponta um caminho. Além do livro indicado, Karen Armstrong já escreveu livros de divulgação das principais religiões do mundo, para que muçulmanos, cristãos, judeus, e budistas, condenados ou abençoados pela história a dividirem o mesmo mundo, possam não se matar uns aos outros, mas se entender e dividir o pão.

Solstícios e Equinócios (sabendo um pouco mais)
Durante o ano, como sabemos, a duração do dia e da noite variam. No verão temos dias mais longos e no inverno dias mais curtos. Essa briguinha entre a luz e as trevas, o dia e a noite, tem no hemisfério sul aproximadamente esta trajetória. O solstício (sol parado) de verão ocorre no dia 21 de dezembro. O dia anterior foi o mais longo do ano, e a partir do solstício a cada dia a duração da noite aumenta e a do dia diminui. No dia 20 de março, equinóscio (noite igual) do outono, temos dia e noite de igual duração; 12 horas pra cada. Mas a duração da noite continua a crescer até que no solstício do inverno, em 21 de junho, a noite volta a ceder espaço e a duração do dia retoma sua trajetória de crescimento, de modo que em 22 de setembro temos outro equinócio, o equinócio da primavera. E em 21 de dezembro, repete-se o solstício de verão: a duração da noite volta a crescer e começa a recuperar o espaço que havia perdido para o dia.

Isso aproximadamente, pois a duração do dia não varia apenas durante o ano, mas também de acordo com a latitude em que estamos.  

(Postagem reciclada de um texto de dezembro de 2007 já aproveitado no blog em dezembro de 2009)

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