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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Música de Brinquedo, do Pato Fu

Tenho alguns CDs por causa de uma ou duas músicas. Há outros em que várias ou mesmo todas as músicas são excelentes. Mas nos melhores CDs todas as músicas formam uma audição única e especial. Assim é o último trabalho do Pato Fu, Música de Brinquedo.

O clima do CD começa assim que pegamos a capa. As faixas coloridas em volta de braços e mãos de adulto, que delicadamente tocam pequeninos instrumentos de brinquedo, a sensação do alto relevo dos braços...

Música de brinquedo tem a capacidade de nos transportar à infância. Não me parece um CD para criança, mas um CD que vai pegar pela mão a criança que está lá no passado de todo adulto. A voz suave da Fernanda Takai em meio aos arranjos diversão do Pato Fu com os brinquedos, a participação das crianças, e as músicas...

As músicas são conhecidas, daquelas que todo mundo sabe cantarolar ao menos um pedaço. Quando entram na nossa cabeça acompanhadas dos arranjos lúdicos do Pato Fu, resgatam também o tempo passado que estava perdido num desvão qualquer da memória.

O fato é que boto Música de Brinquedo para tocar no silêncio calmo de meu apartamento...
...Trago esta rosa para te dar...
...Sonífera ilha, descança meus olhos, sossega minha boca...
...Sha na-na-na, na-na-na, It'll be all right...
...Levava uma vida sossegada, gostava de sombra e água fresca...
...I've got sunshine, on a cloudy day...
...A vida não é filme, você não entendeu...
...Love me tender, love me true...

E quando acaba Love me tender estou me sentido melhor. Mais leve. Quase flutuando pela sala.

Vai lá no blog do Pato Fu (http://www.patofu.com.br) para saber mais sobre o CD, sobre os instrumentos utilizados e ver vídeos (clipes, making of), inclusive "Boas Festas" (Eu pensei que todo mundo fosse filho de papai noel...) gravada para o Fantástico, que não está no CD. Vem mais Música de Brinquedo por aí.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Neste Natal, onde haja escuridão, que se acenda uma vela!

Embora não haja registro do dia em que Jesus nasceu, o Natal é comemorado no dia 25 de dezembro, desde que esta data foi escolhida no séc. IV pelo papa Julio I para celebração do nascimento do Salvador. Na época, no hemisfério norte o solstício de inverno caía no dia 25 de dezembro. No Império Romano já se comemorava no dia 25 de dezembro o Nascimento do Sol Invicto (Dies Natalis Invicti Solis), pois é no solstício de inverno que o Sol  que a cada dia vinha desaparecendo mais cedo, tornando os dias mais curtos – reverte sua trajetória e volta a iluminar a Terra, tornando a partir daí os dias cada vez mais longos. (Curiosamente, no hemisfério sul comemoramos o Natal no solstício de verão, quando o sol vai se afastando e os dias começam a ficar cada dia mais curtos.)

Comemora-se o nascimento de Jesus como o surgimento de uma luz que vem socorrer um mundo prestes a desaparecer nas trevas. E essa luz é Deus, e Deus é essa luz. Quem não reconhece este mesmo padrão, revivido de dez mil formas, na arte ou dentro de si mesmo? Quem não tem intimidade com um mundo que progressivamente perde a luz, esfria e parece fadado a sucumbir à falta de sentido? Um mundo que, no entanto, volta milagrosamente a ser iluminado e aquecido, volta a fazer sentido sem que se saiba exatamente como nem por quê.

Mas cada luz que nasce é sempre breve. Novamente irá sofrer, enfraquecer e morrer. Jesus morre crucificado. Quando as mulheres vão procurar pelo seu corpo, lhe falam: “Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo?” 

Dois discípulos tristes com a morte de Jesus encontram um desconhecido que lhes fala sobre a mensagem das escrituras, sem que isso possa lhes animar. Apenas quando esse desconhecido reparte o pão, os discípulos veem Jesus aparecer diante deles, para logo desaparecer. Pois Deus não nasceu quando Jesus nasceu nem morreu quando ele morreu. Deus (ou o Bem, ou o Amor, ou o Tao, ou o Nirvana, ou Buda, ou Alá, ou Brahman) está em cada um de nós e em cada fenômeno do mundo, embora muitas vezes só possa ser visto como ausência. E aparece quando dois ou três homens se reúnem e dividem o pão, não importa em que época, em que lugar ou as palavras que eles falem.

Será que também hoje não vivemos dias tão sofridos, em que as trevas avançam, e as disputas religiosas nos põem diante da escolha entre viver sem religião ou seguir líderes fanáticos que mais escondem do que revelam Deus? Será que devemos procurar entre os mortos o que está vivo? Ou já é tempo de nascer uma nova forma de religiosidade, que na realidade é a forma antiga adaptada aos tempos de hoje?

A Escada Espiral, de Karen Armstrong
“O que nosso mundo precisa agora não é crença nem certeza, mas compaixão ativa e respeito, expresso na prática, pelo valor sagrado de todos os seres humanos, inclusive de nossos inimigos.”

Nessa época natalina, vejo a estrela de Belém indicando o livro “A escada espiral”, de Karen Armstrong. A autora apresenta, por meio de suas memórias e de seus dilemas pessoais, os dilemas da modernidade diante da religião, e aponta um caminho. Além do livro indicado, Karen Armstrong já escreveu livros de divulgação das principais religiões do mundo, para que muçulmanos, cristãos, judeus, e budistas, condenados ou abençoados pela história a dividirem o mesmo mundo, possam não se matar uns aos outros, mas se entender e dividir o pão.

Solstícios e Equinócios (sabendo um pouco mais)
Durante o ano, como sabemos, a duração do dia e da noite variam. No verão temos dias mais longos e no inverno dias mais curtos. Essa briguinha entre a luz e as trevas, o dia e a noite, tem no hemisfério sul aproximadamente esta trajetória. O solstício (sol parado) de verão ocorre no dia 21 de dezembro. O dia anterior foi o mais longo do ano, e a partir do solstício a cada dia a duração da noite aumenta e a do dia diminui. No dia 20 de março, equinóscio (noite igual) do outono, temos dia e noite de igual duração; 12 horas pra cada. Mas a duração da noite continua a crescer até que no solstício do inverno, em 21 de junho, a noite volta a ceder espaço e a duração do dia retoma sua trajetória de crescimento, de modo que em 22 de setembro temos outro equinócio, o equinócio da primavera. E em 21 de dezembro, repete-se o solstício de verão: a duração da noite volta a crescer e começa a recuperar o espaço que havia perdido para o dia.

Isso aproximadamente, pois a duração do dia não varia apenas durante o ano, mas também de acordo com a latitude em que estamos.  

(Postagem reciclada de um texto de dezembro de 2007 já aproveitado no blog em dezembro de 2009)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Conversa com Ovídio

“E se os outros animais, dobrados para baixo, olham o chão,
[Prometeu] conferiu ao homem uma cara virada para cima, e instruiu-o
a olhar para o céu e a erguer o rosto ereto para os astros.”

Na verdade, meu bom Ovídio, nós homens temos um pescoço feito para virar nossa cara tanto para o céu como para o chão. Se nos curvamos demasiadamente para o chão, andamos cabisbaixos, e sofremos dores agudas no pescoço. Se nos voltamos apenas para o céu, ficamos mais alegres a aliviados das dores. Mas, um belo dia, tropeçamos em um pequeno buraco ou numa simples pedrinha e, que lástima, acabamos com a cara no chão.

Pensando bem... talvez o Deus tenha posicionado nossa cabeça com os olhos mirando reto o horizonte. Em cima de um pescoço flexível, para que na travessia pudéssemos olhar para o céu, para o chão, para um lado, para o outro.

Há também um outro olho com que olhamos para trás. Mas este olho, a memória, consegue olhar pra trás sem nos quebrar o pescoço, com a face ainda voltada para frente, para o horizonte.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Minha Viagem Insana

(história que participou de sorteio promovido pelo blog www.viajenaviagem.com)

A viagem insana que vou contar é de muito, muito tempo atrás. Do tempo em que, com 23 anos, eu ainda morava no Leblon com minha mãe e estava tentando descobrir o que fazer da vida. Mas não me esqueço dessa pequena viagem, porque durante toda a vida agradeço a Deus por ter chegado vivo em casa (num reboque, mas vivo, e sem um arranhão).

Naquela época, meus amigos de Niterói misturavam viagem, carro e bebida; uma mistura explosiva que era considerada muito natural e segura. Naquele fim de semana, precisamente em 11 de agosto de 1990, fomos comemorar o aniversário do Carlos no sítio da família do Binho em Silva Jardim. Lá fui eu, sábado de manhã, céu azul, no Voyage mal movido a álcool da família, com os faróis cegos que iluminavam apenas três metros de chão. Mas não tinha problema, eu ia dormir por lá – por causa do farol. Nem passava pela minha cabeça que beber e dirigir podia ser perigoso.

O churrasco era insano: uma quantidade absurda de cerveja para um punhado de carne dura que mal se viu. E no entanto todo mundo estava adorando. À noite alguém lembrou que tinha uma exposição agropecuária num povoado vizinho. Como eu era um dos mais bêbados, também fui um dos mais insanos: entrei no Voyage cegueta e convoquei todo mundo para ir à exposição, batendo com a mão na porta do carro pelo lado de fora.

Não me lembro como cheguei lá. Só lembro que, a certa altura, fui dormir um pouco no carro. Quando o Plínio, que estava de carona comigo, chegou pra dormir também, eu disse: Vambora pro Rio. Ele topou e eu fui. Pra chegar ao Rio a viagem foi mais longa e conturbada do que eu podia imaginar.

Me lembro de alguns flashes. O carro subindo em um canteiro na bifurcação da estrada; o Plínio acordando e dizendo “por aí não!”; e finalmente a batida direta, de frente, em uma árvore, sem frear…

Felizmente (para mim, não para a árvore), ela era fraquinha e voou, batendo no teto do carro, que parou logo adiante. Fiquei sóbrio na hora. Veio a polícia rodoviária, que ajudou a tirar o carro da pista e a chamar o reboque. Eu e o Plínio, que nem estávamos na estrada certa para voltar para o Rio, voltamos no carro do reboque. Entrei em casa na manhã de domingo, morrendo de vergonha, e falei muito sério pra minha mãe que tinha dormido no volante (mas desconfio que ela sabia que eu tinha voltado de uma viagem insana).