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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Bussunda, a vida do casseta, de Guilherme Fiuza

“Bussunda Besserman Vianna”: em 13 de julho de 2006, menos de um mês depois da morte de Bussunda, esse era o título de uma crônica que seu irmão mais velho escreveu para o jornal O Globo. Não era piada, o irmão e amigo de Bussunda queria mostrar ao Brasil que por trás do palhaço famoso havia um homem com uma densa história familiar, humana e intelectual. O jornalista e escritor de Meu nome não é Johnny, Guilherme Fiuza, pegou a dica e começou a juntar material e fazer entrevistas para escrever a história de Cláudio Besserman Vianna, o Bussunda. Finalmente, em 2010, ficou pronto o livro Bussunda, a vida do casseta, que conta a história do casseta mais famoso, entremeada com as histórias dos outros integrantes do grupo e de personagens importantes na vida de Bussunda, além de destrinchar os bastidores da TV Globo durante o período em que a turma da Casseta Popular e do Planeta Diário provocou uma revolução no humor brasileiro.

Poucos dias depois de acabar de ler o livro, recomecei a lê-lo, agora com prazer redobrado, pois depois da primeira leitura passei a conhecer bem os personagens daquela saga. Apesar de Bussunda ser bem famoso, eu não sabia nada sobre a sua história e a de seus amigos. Parece que ninguém quer saber a história dos palhaços. Mas deveria. Além da graça, depois de ler a história dos palhaços entendemos melhor a piada.

A Casseta Popular foi criada em 1978 pelos estudantes de engenharia Helio do Couto Filho (Helio de La Peña), Marcelo Garmatter Barreto (Marcelo Madureira) e Roberto Adler (Beto Silva). Já em 1980, devido à dificuldade dos donos em conciliar o estudo com a redação e distribuição da revista, a Casseta foi reforçada pelos outsiders Bussunda e Claudio Manuel. O Planeta Diário, mais profissional, era um tablóide mensal com tiragem de milhares de exemplares lançado em dezembro de 1984. Seus criadores (Reinaldo Figueiredo, Hubert Aranha e Claudio Paiva) saíram das redações do Pasquim para criar seu próprio jornal.

A falta de engajamento com a esquerda diferenciava o humor da Casseta Popular e do Planeta Diário do humor da época. Ainda no Pasquim, o humor livre dos futuros donos do Planeta Diário incomodou até a secretária do jornal, Dona Neuma, quando eles criaram um Fidel Castro afeminado:

— Meninos, dessa vez vocês foram longe demais.
Nem tanto. Estavam só arrumando as malas para deixar o Pasquim e ir muito mais longe com o Planeta Diário. Agora não teriam mais constrangimentos com a velha guarda do humor engajado.

Não se tratava de substituir o engajamento de esquerda pelo de direita. O que o novo humor fazia era assumir a posição crítica do humor, que desconfia de tudo que se leve a sério demais. Bussunda cresceu com essa desconfiança. Filho caçula de uma família de militantes do PCB bem sucedidos na selva capitalista, Bussunda enfrentou com humor barricadas ideológicas na família, na escola e na universidade. Sem ser um rebelde, simplesmente não se adaptava aos padrões que tentavam lhe impor.

Seus problemas acabaram! O bordão das Organizações Tabajara caracteriza bem a fé cega que o século XX teve em geringonças teóricas e práticas que prometiam a solução de todos os problemas. Para o fim dos problemas sociais, o comunismo de um lado e o capitalismo irrestrito de outro prometiam o paraíso na Terra. Para a solução dos problemas individuais, o século XX viu desfilar uma série de soluções definitivas, entre as quais se destacaram a psicanálise e o padrão yuppie do jovem de sucesso bem educado e bem aparentado.

Como Guilherme Fiuza relata no livro, desde a adolescência o tímido Bussunda olhava de esguelha toda essa grandiosidade, apesar de sua mãe ser psicanalista e militante do partido comunista, e seus dois irmãos mais velhos seguirem à risca o caminho professado pela família, tanto no engajamento político, quanto no sucesso profissional na trilha de muito estudo e dedicação às carreiras. Bussunda não se rebelava, mas também não se enquadrava, e ia se especializando em combater a rigidez do sistema com humor afiado.

Bussunda e os outros humoristas do grupo não eram niilistas desesperançados da vida. Se assim fossem, não teriam nenhuma graça. Eles só não acreditavam em produtos mágicos que prometiam a solução de todos os problemas. Principalmente se esses produtos se levassem tão a sério a ponto de proibir a piada. Como na fábula, o Rei está nu, e a turma do Casseta & Planeta não perderia nenhuma oportunidade de mostrar a todos que a roupa do Rei é uma farsa. Essa visão está bem resumida no título de um dos best sellers do grupo: Como se dar bem na vida, mesmo sendo um bosta.

O homem não é grandes coisas, no máximo é um bosta, e toda tentativa de sacralizar alguns homens e algumas ideias humanas criam barreiras, falsas roupagens que impedem o homem de se enxergar e de enxergar suas ideias como de fato são. Não assumir a real condição humana não ajuda a melhorar, ao contrário, cria uma ilusão que torna o homem muito pior.

Leia o 1º Capítulo de Bussunda, a vida do casseta neste link da Livraria Cultura

E no Google Books, parte de Como se dar bem na vida, mesmo sendo um bosta

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