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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A vida é perto

A vida é perto. Esse é o nome do DVD da Olívia Byington. Nem vou comentar sobre o DVD, pois sou suspeito. Afinal, por volta dos meus vinte anos eu fui apaixonado, não pela cantora que nunca conheci, mas pelos shows da Olívia Byingon, que eu perseguia no Rio de Janeiro. O meu destaque aqui é o título do DVD. A vida é perto. Perto.

Esses dias tudo vem conspirando para me dizer isso: “A vida é perto”, embora com frequência busquemos a vida em um lugar distante. No passado, em algo que não aconteceu, no futuro, em outra vida, mesmo na morte, e até num simples bilhete de loteria. E a vida ali. A felicidade ali. A beleza ali. Sempre ao nosso lado. Perto. Mas somos incapazes de enxergar. Lembra-me a forte imagem de que o homem é como um louco que já está dentro da festa – da vida, da felicidade, da beleza – no entanto desesperadamente batendo na porta pelo lado de dentro para entrar.

Comecei a pensar nisso depois de ler “Pearls before breakfast”, reportagem preciosa de Gene Weingarten publicada no Washington Post e disponível no link abaixo:

http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2007/04/04/AR2007040401721.html?hpid=topnews

A equipe do Washington Post conseguiu colocar o violinista Joshua Bell tocando incógnito, como artista de rua, seis peças de música clássica em uma estação de metrô de Washington. A reportagem, além de narrar as reações de quem passava ao lado do violinista rumo ao trabalho, analisa a correria do homem moderno, com os olhos sempre voltados para um objetivo impessoal à frente – riqueza e sucesso profissional. Nessa correria, quase sempre é incapaz de enxergar, e ouvir, o que está ao seu lado, bem perto. O escritor britânico John Lane entende que a experiência com o violinista no metrô não significa que o homem moderno não tenha capacidade de entender o belo, mas talvez o belo seja irrelevante para ele. O texto de 14 páginas deve ser impresso para ser lido e relido com calma, refletindo e apreciando sua elaborada construção, seus detalhes. Como aperitivo leia os primeiros versos do poema Leisure, de W. H. Davies, e um parágrafo da reportagem:

“What is this life if, full of care,
We have no time to stand and stare”

“If we can’t take time out of our lives to stay a moment and listen to one of the best musicians on Earth play some of the best music ever written; if the surge of modern life so overpowers us that we are deaf and blind to something like that – then what else are we missing?”

6 comentários:

  1. Eu confesso que, talvez, parasse por uns 02 minutos para ouvir Joshua na Estação e depois, seguiria para o trabalho. Não por que a beleza é irrelevante para mim. Mas, como o texto do Washington Post também sinaliza, ela precisa de um contexto e de dedicação. É como assitir a um filme no cinema ou na TV, entrecortado por propagandas, telefonemas, etc. Ele será bem mais apreciado na primeira experiência. Até a admiração precisa de um ritual.

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  2. Branca, obrigado por comentar. É sempre oportunidade de voltar ao texto e descobrir novas visões. Acho que o texto do Washington Post mexeu comigo porque ele fala da pressa com que andamos. Sempre indo de um lugar ao outro, como os commuters indo para o trabalho, sem olhar o que acontece no caminho. E, no entanto, a vida acontece na travessia; o fim a que chegaremos todos é a morte; Pra que a pressa? O texto me fez pensar em desacelerar, buscar um novo ritmo. Dos mais de mil que passaram, poucos sequer viraram o pescoço. Se você parasse e desse uma oportunidade à musica, você estaria na minoria que ainda pode parar e observar. Talvez a música também me fizesse parar. Mas acho que o texto vai além disso. Parar para uma música linda é o mínimo e poucos pararam.

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  3. Sim... Atualmente, o "não parar" tornou-se a regra... O símbolo de uma eficiência sem sentido. Tudo isso para chegar onde? Para conseguir o quê?

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  4. No comentário acima escrevi muito mas não falei do contexto. Na reportagem, o tema é levantado por um curador, e eu entendo que um quadro passe despercebido fora de um contexto adequado. Também não há dúvida que o contexto para assistir a um filme é o cinema. Mas não consigo apontar um contexto ideal para a música. Talvez o pior contexto seja a experiência de ir a um grande teatro ouvir músicas que já conhecemos bastante. Músicas nos surpreendem e nos tomam em restaurantes, no cinema, no carro; compramos CD que ouvimos nos lugares mais inusitados, e escutar aquele CD raramente nos oferece a mesma experiência que nos empolgou tanto. Enfim, para a música não me parece que o contexto da reportagem estava ruim.

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  5. Oi, Roberto

    Estou lendo o livro de crônicas "Doidas e Santas" da Martha Medeiros e, numa delas, ela comenta o arquivo do Washington Post. O texto está no seguinte Link: http://www.casacomdesign.com.br/blog/textos.asp?id=9
    Ela gostaria de saber se pararia para escutá-lo e torce para que sim...

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  6. É interessante, porque esse texto me fez lembrar de uma frase, que depois localizei no texto "cresça e divirta-se", da Martha Medeiros, e coloquei na postagem "Travessias", mais recente.

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