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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Colagem

“Que é a tolerância?
É o apanágio da humanidade. Estamos todos empedernidos de debilidades e erros; perdoemo-nos reciprocamente nossas tolices, é a primeira lei da natureza.” (Voltaire, em Dicionário Filosófico)

O diabo são os outros!

O diabo são os outros?

O diabo sou eu! Nada do que é humano me é estranho. Dentro do meu coração está o ódio, a intolerância, a violência, o egoísmo; meu coração abriga todos os assassinatos, todos os crimes, todas as vilanias já cometidas pela humanidade. No entanto, nem eu, nem a maioria de meus pares humanos, transformamos em ato todas as maldades que nossos corações abrigam. Difícil dizer os motivos dessa aparente nobreza, talvez quase sempre uma mistura de motivos dignos e mesquinhos. Difícil julgar quem atravessou a linha, difícil julgar os monstros dos jornais; afinal, se procuro bem, são meus monstros.

Não julgueis! Quem nunca pecou que atire a primeira pedra! Quem sabe, realmente, o que fará amanhã quem cometeu um crime ontem? E o que fará amanhã esse que hoje se abaixa para apanhar a pedra? E o que fariam ambos em outras condições?

Não julgar não significa que não lutemos pelo que chamamos de Justiça, uma tentativa pragmática de proteger as pessoas, de conter o mal nas ruas com medidas eficientes de vigilância, julgamento e aplicação de penas.

Não julgar não significa perder a bússola, a orientação pelo bem, mas reconhecer que se precisamos de bússola, de orientação, é porque temos também dificuldade para seguir no rumo certo.

Não julgar significa não linchar, não apedrejar, não torturar, não abandonar, não excluir e dividir mais do que as paredes inevitáveis das prisões, das casas, dos medos e desejos.

Não julgar significa não cair na tentação que diz: “você solta seus demônios, então eu solto os meus!” E juntos transformamos o mundo num inferno.

Não julgar significa ter esperança. Esperar que além da luta entre o mal e o bem, que se trava no meu coração e nas ruas... além dessa agonia que consome o homem... mais fundo no coração de todo homem haja uma luz que pulsa na natureza e que pode ser revelada... uma luz que sinto em um breve momento de paz, deitado na grama à sombra de uma árvore.
(texto publicado na edição de maio da Revista da Sexta)

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