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domingo, 21 de março de 2010

“APODERA-TE NOVAMENTE DE TI MESMO” (Sêneca)

Minha prima Coca, que me levou à Mauá quando eu tinha 10 anos, em 1977. Marcos, colega de Receita Federal que trabalha em Recife, que conheci em Brasília no treinamento para o cargo de Técnico de Finanças e Controle realizado na Esaf em 1993. Cezar, namorado da minha cunhada, que conheci no carnaval de 1995 em Arraial do Cabo. O que há em comum entre eles, além de mim, é que no primeiro fim de semana de setembro de 2007 todos foram atraídos à cidade de Belo Horizonte, onde moro. Cezar veio fazer provas para concursos na área de Direito; Marcos veio finalmente defender sua monografia de encerramento de um curso à distância de pós-graduação em Direito Urbanístico; e Coca veio a um congresso de Urbanismo em Ouro Preto e aproveitou para passar o fim de semana em Belo Horizonte e conhecer Inhotim. Cezar e Coca ficaram hospedados na minha casa, de onde escapuli no sábado à tarde para encontrar Marcos e Carlos em uma mesa de Bar. Conheci Carlos, que trabalha neste mesmo prédio na Av. Afonso Pena, na faculdade de Engenharia no Rio de Janeiro em 1985, calouro como eu. Marcos, Carlos e eu, três em volta da mesa, todos os três curiosamente vestiam camisas verdes.

O que isso significa? Nada. Apenas que a vida mais comum é simplesmente imprevisível e fascinante. Precisamos apenas ficar atentos e abertos para sair da senda cotidiana. Uma semana antes de prima e amigos virem a Belo Horizonte e trazerem meu passado em meio a jardins de Burle Marx, camisas verdes, provas de concurso e lembranças de Mauá, fui à comemoração dos 50 anos de Receita Federal do Heryberto, promovida pelos colegas sob a batuta do Serginho, que promete transformar a Delegacia Sindical de Belo Horizonte do Unafisco Sindical num ponto de encontro, com homenagens mensais para os aniversariantes (Sergio, mantenha a simplicidade do encontro na lanchonete do 10º andar depois do expediente!). O ponto alto foram os discursos espontâneos do Serginho e dos familiares do Heryberto. Depois fiquei por ali, tomando caldinho de feijão e cerveja na companhia dos que se permitem ficar sem mais porquê. Entre esses colegas estava o Mauro, que ainda esticou a noite para ir ao lançamento do CD do Chico Amaral no Museu de Artes e Ofícios. Um ou dois dias depois, a caminho do almoço, encontrei o Mauro em frente à saída Goiás; um impulso para parar; mas preso à minha correria maquinal apenas cumprimentei e segui em direção ao nada a quilo, onde temperei o prato com a sensação amarga de que deixara pra trás um agradável almoço no Mercado Central acompanhado de saborosa conversa sobre os issos e aquilos da vida.

Estou lendo 29 cartas de Sêneca ao amigo Lucílio, reunidas pela Editora Martins Fontes sob o título “Aprendendo a Viver”. O livro é muitas vezes uma reflexão sobre a morte, mas o título é adequado, pois Sêneca acredita que apenas enfrentando a escuridão tenebrosa e encarando o medo da morte e das perdas realmente aprendemos as lições que podem nos colocar no caminho plano da vida feliz. E essas lições são espantosamente próximas ao Budismo: desapego, naturalidade, consciência de que tudo muda, concentração no tempo presente, fazer o bem, não temer a pobreza, evitar a ambição e a ignorância. Mas quem pode levar a sério essas lições sem antes aceitar a vida sem máscaras, com a morte, que é o fim certo a que chega toda vida? Esqueça Lucílio, o livro reúne cartas de Sêneca destinadas a mim, ao Cezar, à Coca, ao Mauro, ao Serginho, a cada homem que se encontra em dificuldades diante da vida.

Terminei de ler o fantástico Os filhos da meia-noite. Felizmente escrevi sobre ele neste espaço quando tinha lido apenas os dois primeiros capítulos. Senão, como escrever um pouco de um livro que envolve o mundo todo em sua saga familiar? Mas, se estamos a dar conselhos, é um livro para resgatar ou realçar aquele encantamento (lembra quando você era menino ou menina?) com a vida de cada um, por mais comum e miserável que seja. Quem não é capaz de ouvir a voz que sai desse livro? Às vezes temos a impressão de que, se encostarmos sua capa ao nosso ouvido por tempo suficiente, ouviremos ecos de todas as vidas, e saberemos.

(Texto de setembro de 2007)

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