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domingo, 21 de março de 2010

ERA UMA VEZ...

E Deus disse: big bang. Não, e Deus disse: Era uma vez... Porque Deus é um contador de histórias. Ele conduz e é conduzido pela trama que conta, e não escolhe exatamente o que irá acontecer. Mas quem pode negar seu amor por cada estrela, cada planeta, cada personagem, humilde ou poderoso, engraçado ou desgraçado, cômico ou trágico, que sai da sua boca divina.

De certo que o homem pensa, e seu pensar, para o bem ou para o mal, influencia o seu agir. Mas como imaginar que Deus é pensamento, como uma grande cabeça que resolveu projetar o universo e comanda premeditadamente tudo que aqui acontece. O pensamento veio depois, e já é uma outra história, ou é nota de rodapé.

E é contando e ouvindo histórias que o homem se reconhece. A história do universo, do mundo, da terra, dos homens, do seu país, e até da sua própria família não lhe pertence. Outro conta melhor; e lhe cabe apenas, como as crianças na roda em volta do contador, se admirar, e rir, e chorar, e esperar, e recontar. Mas nesse jogo começa a olhar também para a sua história com amor, como algo que não pode controlar inteiramente, também aqui outro conta melhor. Reconhece, porém, que a sua é a única história que pode compartilhar na criação. E percebe que estar perto de Deus não é pensar, não é controlar tudo, não é achar a solução para o mundo ou para si, mas aceitar e amar tudo como é. Receber o presente, com alegria ou tristeza, amor ou ódio, conforme o que vier, e deixar passar e passar; e fazer o bem que conseguir (por amor à beleza? a Deus? ao amor? à vida?) na aventura da sua vida.

Se hoje não podemos mais, em volta da fogueira, ouvir belas narrativas, podemos “ouvi-las” nos livros e sentir o mesmo deslumbramento que une os homens de todas as épocas da história e de todas as partes do mundo. Convido os meus poucos leitores para nos reunirmos com a humanidade em volta da fogueira da internet, e “ouvirmos” os dois primeiros contos do livro “Os grandes contos populares do mundo”, organizado por Flávio Moreira da Costa. Como não nos reconhecer nesses dois contos populares: "A cabana de luzes", do Afeganistão, e "O guerreiro Juliano", da Alemanha. Como não reconhecer neles a desgraça da prepotência do pensamento, a pobre prepotência do homem, que nega o mundo em favor de seus preconceitos e de sua má filosofia, que perde a vida esperando uma outra vida. Como não nos compadecermos e, como Xariar, quem sabe ouvindo histórias também não aprendemos algo de divino. É certo que Xariar, para sair de seu egoísmo, precisou da beleza, do talento, e do amor de Sherazade. Mas nós não fomos tão mimados quanto um Rei; ou fomos?

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