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quarta-feira, 24 de março de 2010

TERRA SONÂMBULA, DE MIA COUTO

Em meio à devastação da guerra civil em Moçambique, o menino Muidinga e o velho Tuhair caminham por uma estrada abandonada, murchos e desesperançados. É preciso salvar a alma do menino Muidinga, sem família e sem memória. O corpo do menino foi salvo pelo velho Tuahir, quando todos no campo de refugiados já o tinham abandonado. Mas como pode Tuahir salvar a alma do menino, se a sua, se existe, está escondida sob camadas de desilusão? Também é preciso salvar a alma do velho Tuahir.


Os dois companheiros abrigam-se em um ônibus queimado, próximo ao qual encontram uma mala com roupa, comida e os cadernos de Kindzu. Terra Sonâmbula, de Mia Couto, narra o renascer poético de Muidinga e Tuahir provocado pela leitura dos cadernos de Kindzu. E o que há de mágico nesses cadernos? A narrativa fabulosa da história de Kinkzu, com outras histórias dentro, que despertam sonhos e fantasias. Os sonhos e fantasias transformam a vida de Muidinga e Tuahir, ainda que eles permaneçam naquela mesma estrada.

Mas não é apenas os dois companheiros que escutam as fantasias do caderno de Kindzu, também a terra morta pela guerra escuta aquelas histórias. E, quem sabe, a terra não esteja morta? Quem sabe esteja apenas dormindo? E já comece a se mover, sonhambulante, à força dos sonhos de Tuahir, de Muidinga, de Kindzu...:
"— O que andas a fazer com um caderno?
— Nem sei, pai. Escrevo conforme vou sonhando.
— E alguém vai ler isso?
— Talvez.
— É bom assim: ensinar alguém a sonhar.
— Mas pai, o que passa com essa nossa terra?
— Você não sabe, filho. Mas enquanto os homens dormem, a terra anda procurar.
— A procurar o quê, pai?
— É que a vida não gosta sofrer. A terra anda procurar dentro de cada pessoa, anda juntar os sonhos. Sim, faz conta ela é uma costureira dos sonhos."

DEGUSTAÇÃO NO SITE DA COMPANHIA DAS LETRAS!!! 



3 comentários:

  1. Olá Roberto,

    Dei uma olhada geral no seu blog e estou gostando. Acho que vou tentar Fedro, logo.

    Parei para escrever aqui porque li Terra sonâmbula e... discordando... lembro-me de que não gostei.

    Talvez seja momento de revê-lo / relê-lo.

    Tentei me lembrar o meu estado de espírito quando fiz essa leitura. E aproveito para lembrar também dos outros livros que se associaram.

    Geralmente, estados de espírito são bem decisivos para mim...
    Parece-me que estava " tudo bem" naquela época... nada além das melancolias e frustrações banais.

    Quanto aos livros associados (que me influenciam igualmente)naquele período, li também Jardins de Kensington (R. Fresán) e Neve (O. Pamuk).

    Lembro-me bem de tudo isso porque comprei esses livros num lugar especial. Da mesma leva, comprei tambem um livro chamado de Espiral de artilharia (I. Padilla)do qual não gostei... e nem vou falar.

    Do livro de Fresán gostei porque me levou para além de outros livros e personas... e,finalmente, PeterPanBarrie se tornou um ícone em meu coração.
    Se você tiver oportunidade de achar esse livro de Fresán na próxima ida à livraria, e se, a edição for exatamente igual a essa que está agora em minhas mãos, abra-a por favor na página 268 e leia: "O personagem é o escritor". Gosto desse texto.

    De Neve gostei também. Já aqui, o livro me levou para além de mim mesma. Vou tentar explicar assim: há uma espécie de "poema perdido"
    e todo o livro parece uma tentativa de juntar de novo os versos e recompor (-se)... mas é vão. E é aí que está o pulo do gato: o espelho.
    A tal poesia é tratada como coisa íntima. Ela só pode ser composta por cada um de nós,sozinho, quando o autor descreve as reações no rosto da mulher que inspirou o poema, ao escutá-lo pela primeira e única vez.
    É um livro que torna lírico o banal... eu acho.

    Para meu gosto, Terra sonâmbula estava bem acompanhada.

    Também não se trata de resistência ao autor. Eu havia lido O outro pé da sereia. E gostei bastante. Muito mesmo.

    AFINAL, por que não gostei de Terra Sonâmbula? - eu me pergunto. E eu mesma me respondo: talvez não tenha gostado pelos mesmos elementos que tenham feito você gostar dele. Afinal, gosto é gosto.

    A verdade é que achei o livro "adjetivoso", "excessivoso".

    Sabe, me deu a impressão de ser venal. Talvez você não me entenda... ou,o que é pior, talvez eu esteja errada e seja hora da tal releitura.

    Mas me pareceu que o autor usou e abusou de muitos elementos (culturais / místicos)para dar uma espécie de fluidez exótica para a estória... é muito legal quando se usa esse recurso para dimensionar personagens (fisica, psiquica ou emocionalmente...) mas nesse livro de Mia Couto eu me sentir meio "turista"... e sempre prefiro ser "viajante" em minhas leituras.
    Sorry pelo longo texto e opiniões truncadas.
    Vou andar mais um pouco por aqui.
    Abraço
    ElyneSilveira

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  2. Obrigado por comentar, Elyne.
    O que faz a gente gostar muito de um livro é o livro que a gente lê dentro da gente. E um só livro recebe uma leitura diferente de cada leitor. Ou do mesmo leitor a cada vez que é lido. Como você disse, gosto é gosto. Lembro que Terra sonâmbula me encantou desde o primeiro capítulo, de um jeito parecido com que me encantaram Os filhos da meia-noite, de Salman Rushdie, e Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Marques.

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  3. Acho que será um livro que vou gostar de ler...

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