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domingo, 21 de março de 2010

LEITURA

O mais importante não é abrir um livro, mas abrir-se ao livro. Suspenda as certezas, leia vagarosamente. Deixe cada frase levá-lo pelo espaço infinito das entrelinhas. Não leia para conhecer, para isso serviriam os resumos. Leia para ser levado além de um modo pessoal, onde nenhum resumo ou suposto “significado” de uma obra pode levá-lo. As entrelinhas de um grande livro são do leitor, e o escritor nem sequer poderia imaginá-las. Está ali toda a sua vida: os outros livros que você leu, sua experiência, seus sentimentos, seus conhecimentos, tudo dialogando, tudo em movimento. A cada grande livro lido com intensidade você cresce e muda, sua visão do mundo e de você se expande. Por isso, ler apenas um livro pode muitas vezes ser divertido e emocionante, mas lê-lo alguns anos depois, quando entrará na leitura suas novas experiências e os outros livros que você leu, será muito diferente: parece que aquele livro cresceu.

Não vou indicar um livro. Recomendo a leitura diversificada e paciente. Leia grandes livros de literatura, mas não deixe de ler também grandes livros de história, de idéias (e aí incluo filosofia, psicologia e outras ramificações que só são importantes para os especialistas). Ache seus grandes livros, mas não deixe de ler, de vez em quando, alguns dos considerados grandes. Acredite, eles realmente são grandes, e são fundamentais. Alguns talvez precisem de um pouco de leitura sobre o autor e a época em que foi escrito, um pouco de informação para entrar nele; uma vez lá dentro, você não estará lendo mais sobre o escritor e sua época, mas sobre a nossa época e sobre os seus, caro leitor, sentimentos e assombros mais íntimos.

A idéia é crescermos em direção ao tamanho dos livros, não reduzirmos os livros ao nosso tamanho. Outro dia, em uma livraria, peguei na mão Da brevidade da vida, de Sêneca. O título me remeteu logo para todos os sentimentos de frustração diante das minhas mortes diárias a cada escolha e da minha morte final: “a impossibilidade de todas as possibilidades”. No entanto, o que li nas primeiras páginas foi algo totalmente diferente (por falta de espaço, para saber o que li você vai ter que comprar o livro, R$ 6,00 pela LP&M, ou filar numa livraria). Por isso, insisto que se leia com espírito igualmente aberto os opostos, pois a verdade não está em nenhum lugar, parada dentro de um livro esperando para ser conhecida, mas viva e espalhada por todo lado. Leia Rousseau e John Stuart Mill, leia Descartes e Fernando Pessoa, leia Sófocles e Aristófanes, leia drama e comédia, os livros benditos e os malditos, os sagrados e os profanos, os transcendentais e os sensuais.

(Texto de outubro de 2006)

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