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domingo, 21 de março de 2010

TRAVESSIA

Jornada. Aventura. Travessia. Fico com travessia, em homenagem a João Guimarães Rosa. Pois bem, há uma travessia fundamental que cada um pode empreender. Ela nos leva de uma margem seca, devastada, triste e sem cor a outra margem, que de tão rica em árvores, frutas e cores, pode ser chamada de shangrilá, paraíso, iluminação ou jardim do éden.

Assim como a travessia, o barco e os ajudantes para fazê-la serão sempre os escolhidos de cada um. Acredito que muitos percorrem essas águas sem sequer sabê-lo. Mas como aqui se espera a indicação de livros, recomendo dois que falam dessa jornada: Em Busca de um Mundo Melhor, de Karl Popper, e O Herói de Mil Faces, de Joseph Campbell.

O importante é entender que essa travessia é espiritual, o que não a torna menos real. O aventureiro faz ou encontra seu barco e percorre o caminho da margem devastada para a margem fértil. Quando olha pra trás, em direção à margem de onde partiu, vê que ela é exatamente igual ao lugar em que chegou; é o mesmo lugar. Então percebe que sempre esteve no paraíso, mas nunca tinha enxergado.

Pronto, dirão vocês: o Roberto endoidou, pirou de vez. Será que ele está dizendo que esse mundo cruel, desumano, breve e injusto onde todos nós vivemos é o paraíso? Realmente estou, e convido os mais afoitos a ler com atenção os livros indicados para ver que não falo de uma jornada de ilusão, mas de um caminho sóbrio de busca da verdade. Também posso recomendar aqui, para ficar apenas nos textos que primeiramente me vêm à memória, os contos A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa, e Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago. Mas cada um deve encontrar livremente os seus barcos, que não precisam ser necessariamente de papel.

A gente parte de um ponto e mira outro; mas a realidade, o paraíso e o inferno acontecem mesmo na travessia, não na sonhada margem de chegada. Isso nos ensina Riobaldo, aprendiz e mestre de travessias, em Grande Sertão: Veredas. Aliás, a crença no paraíso como um lugar a que se chega e se fica, no caminho como mero meio para se chegar a um fim, na verdade como algo que se alcança com certeza - em oposição às noções de busca e incerteza - parece estar mais ligada à visão do inferno.

(Texto de abril de 2007)

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