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domingo, 21 de março de 2010

O Mundo em uma Frase, de James Geary

Aforismos são remédios para a mente. Os remédios para o corpo não curam diretamente, mas por meio de mudanças que provocam no corpo. Também os aforismos não curam diretamente, mas por meio de mudanças que provocam na mente. Como os remédios comuns, que só são administrados quando há uma doença, também os aforismos só operam e têm sentido diante de um sofrimento causado pela mente. Em relação aos remédios comuns, pode-se esperar algum efeito mesmo sem participação da mente, pois eles provocam biologicamente o movimento do corpo. Já os aforismos, como pretendem provocar o movimento da mente, são inócuos sem a reflexão de cada um. Talvez por isso o aforista Joseph Joubert tenha escrito: “Compreender um pensamento e produzir um pensamento é quase a mesma coisa.”

A primeira dificuldade é perceber que a mente e os pensamentos causam sofrimentos para si; não apenas para os outros por meio das ações. A forma natural de raciocinar tende a enxergar fora de nós a causa exclusiva de nossas dores. Talvez não seja assim. “O seu pior inimigo não pode prejudicá-lo tanto quanto os seus próprios pensamentos, imprudentes. Mas uma vez dominados, ninguém pode ajudá-lo tanto.”, disse Buda. “O que perturba as pessoas não são as coisas em si, mas as suas opiniões sobre as coisas”, disse Epicteto.

Ainda que eu possa reconhecer que meu sofrimento é causado pela minha mente, parece não estar em meu poder movê-la na direção certa. Talvez realmente não esteja, mas só posso saber se tentar. Se localizo meu sofrimento apenas no exterior e culpo o que está fora de mim, é quase impossível que a mente se mova. Se entendo que a minha mente é a maior responsável pelo meu sofrimento, talvez, apesar de todas as dificuldades, minha mente se mova, o sofrimento diminua e minha ação seja boa. Deus diz ao pobre Caim dominado pelo ódio causado por sua mente: “tu podes dominá-lo”.

O aforismo é breve porque é apenas o pontapé inicial de um diálogo que cada um deve ter consigo na solidão. Como o aforismo também só tem sentido diante de algum problema, é um bom sinal que possamos tranqüilamente largar nossos aforismos, pois conseguimos ser o que eles tentam nos ensinar. Mas a vida nunca pára, e é bom carregar na lembrança um armário de aforismos, como quem tem no banheiro um armário de remédios; só que os aforismos não têm prazo de validade.

O livro indicado é “O mundo em uma frase”, de James Geary, que reúne aforistas e seus aforismos, contando uma breve e saborosa história do gênero e de seus mais inspirados mestres.

Alguns aforismos retirados do livro “O mundo em uma frase” (sugiro que se leia com calma e muito tempo, explorando intimamente todas as facetas de cada aforismo antes de passar ao próximo):

Verdades são ilusões de que se esqueceu que são ilusões.
(Nietzsche)

O prazer é o início e o fim da vida bem-aventurada.
(Epicuro)

Quando faltamos a nós mesmos, tudo nos falta.
(Goethe)

Nada basta quando o bastante não basta.
(Epicuro)

Não considere valioso algo que possa ser subtraído.
(Sêneca)

Tudo que pode acontecer a qualquer momento, pode acontecer hoje.
(Sêneca)

A perda de algo nos afeta até que o tenhamos perdido completamente.
(Porchia)

Quem viu tudo esvaziar-se está próximo de saber do que tudo está cheio.
(Porchia)

Se as portas da percepção fossem lavadas, tudo apareceria ao homem como é, infinito.
(Blake)

A arte serve para enxaguar os nossos olhos.
(Kraus)

A viagem de mil léguas começou com o que estava sob os pés.
(Lao Tse)

Governar um reino grande é como cozinhar um peixe pequeno; quanto menos mexer, melhor.
(Lao Tse)

Deus, concedei-me serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar as coisas que posso mudar, e sabedoria para reconhecer a diferença.
(Prece da Serenidade)

Quando nosso corpo e mente estão em ordem, tudo o mais está no seu devido lugar, de forma certa.
(Shunryu Suzuki)

Simplesmente aperfeiçoe a si mesmo; é a única coisa que você pode fazer para melhorar o mundo.
(Wittgenstein)

DEGUSTAÇÃO NO GOOGLE BOOKS!!!

(Texto de agosto de 2007)

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